Resoluções de ano novo

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- janeiro 2, 2014

Início de ano é sempre bom para colocar em prática as resoluções de fim de ano: que sentido queremos dar às nossas vidas.

 

Certamente redirecionamentos não dependem apenas da nossa vontade, exigindo do mundo que nos cerca um ambiente favorável para que as nossas decisões possam ser mantidas. Mas o fundamental, sempre, é o balanço que esses momentos demandam.

 

O mundo em que vivemos está passando por transformações muito velozes. Nem sempre é possível avaliar se as mesmas são necessariamente benéficas ou não. Pessoalmente, tenho a sensação de que o cidadão, hoje, tem um repertório maior de instrumentos para o exercício de seus direitos.

 

Ainda que haja uma grande fragmentação do poder, como menciona Moisés Naim em seu recente livro “O fim do poder”, o poder econômico se faz cada vez mais presente. No Brasil, apenas algumas poucas empresas são responsáveis pelo financiamento oficial das campanhas eleitorais. A indústria alimentícia no mundo, por exemplo, tem um poder de fogo gigante no que tange à influência que exerce diretamente no consumidor, através de publicidade e obstrução de marcos regulatórios, que protegem a saúde da população.

 

O que quero ressaltar é o fato de que com o uso das mídias digitais e sua capacidade de influenciar gente comum, é possível se contrapor aos “poderosos”, motivando estas pessoas a exercer, no seu campo individual, um micro poder que, em um determinado momento, pode criar uma massa crítica importante. A dúvida que sempre fica é: seria possível, ou mesmo desejável, articular esse movimento?

 

As demandas criadas ou mesmo fortalecidas por esses movimentos podem se dar em questões absolutamente específicas como manifestações contra defeitos de determinados produtos, questionamentos de postura de empresas, dentre muitas outras. Também podem tratar de questões na esfera pública que passam pela exigência de políticas públicas e compromissos dos governantes. Um bom exemplo a ser citado é o que aconteceu nas manifestações de junho de 2013 no Brasil, cujo gatilho foi o preço das tarifas do transporte público e que depois se estenderam a temas como ética na política.

 

Provocaram, naquele momento, uma espécie de abalo sísmico na realidade política do país com reflexo claro nas pesquisas eleitorais, afetando com severidade os governantes. Todavia, passados poucos meses ainda não é possível saber a profundidade desses terremotos. Ou seja, ainda nos falta uma escala “Richter” para medir a extensão dos impactos das manifestações de junho passado.

 

Em termos mundiais, desejaria muito que pudéssemos mobilizar a sociedade contra o genocídio da Síria, o desperdício de alimentos, o descomprometimento dos governos com o aquecimento global e a corrupção. Enfim, poderíamos fazer uma agenda com os grandes atentados à dignidade humana em relação aos quais nos sentimos totalmente impotentes.

 

No Brasil, a atenção que a Copa do Mundo vai provocar gera uma enorme oportunidade de colocarmos esses temas de modo pacífico e com muita irreverência. Afinal, nós, brasileiros, temos essa capacidade de tratar assuntos sérios com leveza. E, com isso, essa Copa do Mundo poderia ser marcada como aquela que colocou na agenda a necessidade de pensarmos em uma cidadania planetária. É o que se deseja para 2014.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 2 de janeiro de 2014.