O Brasil no século XXI

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- agosto 23, 2013

Esta semana duas visitas importantes ocorreram no Brasil: a do Ministro Britânico de Energia e Mudanças Climáticas, Ed Miliband e do Diretor Executivo do PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Achim Steiner. Estas visitas demonstram o que há anos vem sendo dito no mundo inteiro sobre a importância do Brasil enquanto “potência” ambiental”.

 

Alguns anos atrás, o World Watch Institute – que publica anualmente seu State of The World – propôs a formação de um grupo que congregaria as potências ambientais, tais como Brasil, China, Rússia, Índia, México, enfim, países portadores de biodiversidade, água doce, florestas, ativos ambientais. No campo da biodiversidade, alguns anos atrás se criou o conceito de países megabiodiversos, iniciativa liderada pelo México por ocasião da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em 2002.

 

No caso do Ministro Miliband, é inegável o esforço dos ingleses no campo do aquecimento global, sendo responsáveis por várias iniciativas entre as quais a produção do Relatório Stern em 2006, marco fundamental na inclusão do tema da mudança do clima na economia. De certo modo pode se dizer que o resultado daquele relatório foi o de trazer o aquecimento global para a agenda dos economistas, deixando o assunto de ser matéria única e exclusiva das ciências relacionadas ao clima, atmosfera, etc e dos ambientalistas. O Brasil está em fase final de divulgação do seu Relatório “Stern”, sendo que as conclusões serão muito importantes no sentido de demonstrar a urgência do tema.

 

O propósito da visita do Ministro inglês foi o de sentir como a sociedade brasileira encara a reunião de Copenhague, que acontecerá em dezembro deste ano. Mais do que isso, procurar na postura dos negociadores brasileiros um sinal de esperança de que o Brasil possa vir a protagonizar uma liderança no resultado daquela reunião, reforçando a ideia de que os grandes emissores “não industrializados” assumirão parte da responsabilidade de redução dos gases efeito estufa nos próximos anos.

 

Como já escrevi anteriormente, o Brasil é a “menina no baile” que todos querem dançar. Temos sido cortejados em busca dessa liderança há muitos anos. O risco é acabar o baile e a menina ficar sem dançar.

 

A China está sinalizando na direção de aceitar a incorporação da dimensão climática na sua economia, o que é fundamental já que é o país campeão das emissões, cujo crescimento da economia representa um importante elemento no consumo de recursos naturais do planeta. Nem tudo do que os chineses dizem corresponde à realidade do país em termos ambientais, mas certamente há uma consciência da necessidade de grandes mudanças no país, quer para enfrentar a poluição de suas grandes cidades, quer para inverter o grave quadro de poluição de seus rios.

 

A presença de Achim Steiner no Brasil trouxe uma agenda crucial: a economia verde (green economy). O PNUMA através da liderança de seu diretor executivo tem clareza que não é mais possível tratar as questões ambientais dissociadas das outras macro-questões. É impossível enfrentar o aquecimento global apenas pela fixação de normas legais, mas torna-se necessário se demonstrar que energia renovável representa mais oportunidades de emprego e renda para a população mundial do que a indústria de óleo e gás. Repensar nossa sociedade requer uma visão do que se quer no futuro, com capacidade de inovar e compreender o século XXI, com as oportunidades que o mesmo traz.

 

Enquanto Achim Steiner dialogava com as lideranças da sociedade civil, ficava claro para os presentes que a polarização do mundo contemporâneo não é formatada em termos de esquerda e direita como no século XX, mas duas visões de mundo que se opõem radicalmente. Ao mesmo tempo em que o foco das discussões sobre o aquecimento global é como diminuir as emissões e/ou seqüestrar o carbono da atmosfera, parte da sociedade brasileira encara o desmatamento dos biomas como progresso.

 

Enfatizou-se mais uma vez a necessidade de colocarmos para a sociedade brasileira uma agenda de oportunidades em termos de uso dos nossos ativos ambientais, com grande repercussão na comunidade internacional pelo fato de que poderíamos nos transformar numa grande referência de sustentabilidade. Volf Steinbaum, da Secretaria do Verde e Meio Ambiente do Município de São Paulo comentou que o Brasil tem uma comunidade científica sólida, uma sociedade civil bem organizada, mídia sensível aos grandes temas, mas que não existe liderança suficiente para que o país aproveite essa crise mundial.

 

Estou cada vez mais convencido de que no ano que vem teremos que aproveitar as eleições e apresentar uma proposta eleitoral avançada em termos de uma macroeconomia verde, isto é, com baixa intensidade de carbono, geradora de renda e emprego, baseada no uso sustentável dos recursos naturais. Da maneira como o quadro eleitoral está se delineando, a única forma de avançar efetivamente nessa direção se daria por uma candidatura verde que provocasse os candidatos hoje bem colocados nas pesquisas, a compreender a importância estratégica que os ambientalistas têm assinalado. Do ponto de vista de compreensão do que possa vir a ser essa proposta, alguns elementos são incontestáveis: melhoria da qualidade da educação brasileira; investimentos em energia renovável e infra-estrutura com menor impacto ambiental, a exemplo de transporte público nas grandes cidades brasileiras; reforma tributária ecológica, enfim, uma abordagem que valorize a perspectiva de médio prazo em oposição à prática valorizadora do curto prazo e obras de grande impacto eleitoral.

 

O próximo presidente terá que conduzir a transição do país para a sustentabilidade, redirecionando os investimentos públicos, em programas de médio e longo prazo promovendo alianças políticas com os setores da sociedade comprometidos com o século XXI.

 

Do ponto de vista eleitoral, temos nomes que poderão liderar essa discussão nas próximas eleições. Marina Silva, Fernando Gabeira, Alfredo Sirkis, Eduardo Jorge são lideranças com capacidade de enfrentar campanhas eleitorais majoritárias, por possuírem conteúdo, experiência parlamentar, além de partilharem uma visão de mundo que toca o coração dos brasileiros. A possível vinda de Marina Silva para o Partido Verde trará um novo momento para os verdes brasileiros, fazendo com que esse partido político encontre uma nova sintonia com o eleitorado e a sociedade brasileira.

 

E se Marina vier a ser candidata quem sabe o Brasil tenha na sua presidência uma mulher cuja vida é a receita do compromisso com o século XXI.

 

Por que não sonhar?