Recentes relatórios demonstraram que os brasileiros sofrerão mais problemas de saúde nos próximos anos, especialmente o câncer. De certo modo, pode-se afirmar que o que sofremos hoje se deve à desatenção dada a vetores da doença tais como pesticidas nos alimentos e outras modalidades de contaminação.
O diferencial é que hoje, ao contrário de algumas décadas, temos mais informações sobre os efeitos da contaminação sobre a saúde humana, ainda que continue difícil se assegurar políticas efetivas de prevenção uma vez que se opõem a interesses específicos das indústrias envolvidas.
Outra barreira para a implementação dessas políticas é o fato de que elas muitas vezes são de difícil mensuração e os resultados se manifestam a médio e longo prazo.
Do ponto de vista eleitoral, estas circunstâncias dificultam o convencimento dos governantes a investirem em prevenção: a inauguração de um hospital tem mais impacto eleitoral do que as políticas garantidoras de boa alimentação, saneamento básico, água potável e ar limpo.
Diante desse contexto, é importante que o eleitor compreenda que na escolha dos seus representantes e governantes estejam contempladas ações de prevenção, até mesmo porque os custos da inação são pagos pelos contribuintes.
Nos últimos dias, participei de uma discussão entre a sociedade civil e órgãos governamentais paulistas sobre o Litoral Norte, em continuidade à ideia de se estabelecer um pacto pela sustentabilidade da região.
Ficou evidente o custo da omissão em relação à fiscalização de ocupações irregulares no litoral de São Paulo.
Apenas um projeto de reassentamento nos bairros-cota de Cubatão significará ao contribuinte paulista investimentos da ordem de R$ 1 bilhão, sendo importante ressaltar nesse caso que esta iniciativa tem sido considerada dentro e fora do Brasil como o melhor projeto de habitação social sustentável do mundo.
Entretanto, tais investimentos são necessários pela ineficácia de políticas habitacionais e de fiscalização do Estado em reprimir a ocupação irregular, que, aliás, é patrocinada, na maioria das vezes, por prefeitos, vereadores e deputados.
No caso do Litoral Norte, o que vemos é uma tendência a piora dos padrões de balneabilidade de suas praias em função desta ocupação irregular em que pese os esforços em investimentos em saneamento.
Mas, o que mais me chamou atenção em relação aos índices de balneabilidade: a Cetesb deixou de adotar coletas mais frequentes no período da temporada, como estabelecido por Resolução da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, voltando a promover apenas coletas semanais.
Explico: quando a Cetesb divulga o índice de balneabilidade está se baseando em cinco coletas semanais, de modo que está realizando um desserviço à população que muitas vezes acredita usufruir de uma praia de boa qualidade e vai voltar das férias com hepatite, otite e outros problemas de saúde.
Provavelmente isto ocorre sob alegação de que as coletas exigem muitos servidores que normalmente saem de férias no período de janeiro e fevereiro.
Na gestão Mário Covas (95-98), se estabeleceu que neste período amostras seriam coletadas no mínimo 3 vezes por semana, exatamente porque neste período temos uma população flutuante superior a residente, além de ser o período de chuvas. Com a palavra, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e a Cetesb.
Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 5 de dezembro de 2011.