A ciência brasileira e a mudança do clima

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- setembro 12, 2013

Na semana passada, escrevi sobre a possibilidade do governo Dilma assumir uma posição de liderança nas negociações no âmbito da Conferência das Partes de Mudanças Climáticas, assinalando que o próximo relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, cujo início de divulgação se dará ainda este mês, poderá quebrar a apatia que reina sobre o assunto.

 

Esta semana foi realizada em São Paulo a “1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas Globais”, com o objetivo de expor o estado da arte da ciência brasileira em relação ao tema. É indiscutível que o Brasil avançou muito na produção de ciência sobre a matéria e, certamente, isto irá se refletir muito em termos de prestígio nacional nas discussões do aquecimento global.

 

Particularmente, fiquei muito impressionado com o número de jovens cientistas, com mestrado e doutorado nas mais diversas áreas, engajados no desenvolvimento de modelos climáticos, o que é extremamente positivo por garantir a continuidade desses estudos nas próximas décadas.

 

Tasso Azevedo, um dos mais brilhantes ambientalistas da nova geração, comentou a esse respeito com entusiasmo: “Não é impressionante ver gente tão jovem e capaz expondo com propriedade seus estudos acadêmicos?”

 

O grande desafio, entretanto, continua a ser como fazer com que esse conhecimento influencie efetivamente políticas públicas, preparando o país para o enfrentamento necessário aos efeitos do aquecimento global. Carlos Nobre, uma das principais referências mundiais no assunto, enfatizou na abertura do evento a necessidade de se focar na adaptação às mudanças climáticas e não apenas na mitigação de gases efeito estufa (GEE).

 

Acompanhar o conhecimento científico sobre mudança do clima é tarefa extremamente difícil por se tratar de uma matéria complexa, que exige sabedoria nas mais diversas áreas: química da atmosfera, ciclo global do carbono, correntes marítimas e conhecimentos básicos de oceanografia, formação de nuvens e o seu papel no clima, sistemas complexos e não lineares com “pontos de inflexão”, enfim, compreender que ainda que se esteja avançando no conhecimento científico nos últimos anos estamos diante de um longo caminho.

 

Mas como Paulo Nobre do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mencionou, alguns fatos como a concentração antrópica de GEE na atmosfera são incontestáveis, de modo que os questionamentos feitos pelos chamados “céticos” são desprovidos de qualquer base científica e anti-éticos.

 

Certamente o importante é compreender que devemos investir mais em adquirir conhecimento científico, articulando os esforços brasileiros com os de outros países e, com isso, demandar, cada vez mais, a inserção desses temas em uma arquitetura institucional global, com o objetivo claro de exigir um novo processo decisório no âmbito das Nações Unidas. Esta tentativa, aliás, foi feita na Rio + 20, mas sem alcançar sucesso, valendo retomá-la  nas negociações em curso para 2015.

 

 

Fazer a ponte necessária entre ciência e política é a lição de casa que precisamos fazer, ainda que não saibamos exatamente como. No âmbito das negociações em curso, dar mais voz à comunidade científica para que a sua ciência influencie mais rapidamente a tomada de decisão. E na guerra da comunicação, demonstrar que pouca dúvida existe sobre a urgência da ação diante da indiferença dos governantes.

Texto publicado no jornal Brasil Econômico em 12 de setembro de 2013.