A grande conspiração

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- outubro 7, 2013

É fácil se verificar uma onda que colocou os céticos em evidência, isto é, aqueles que desmentem o aquecimento global e o inserem em uma conspiração contra o desenvolvimento de países como China, Índia e Brasil.

O argumento básico é o seguinte: a ação humana para o aquecimento global é desprezível e é absolutamente natural a existência de ciclos nos quais o planeta esfria ou aquece. Além disso, a posição do planeta diante do Sol e as explosões solares teriam grande impacto no clima da Terra.

A conclusão dos céticos levaria, basicamente, a isentar a responsabilidade dos combustíveis fósseis pelo aquecimento global, bem como das outras fontes de gases efeito estufa.

Não haveria, então, razão para se estimular fontes renováveis de energia e, com isso, poder-se-ia alocar recursos para o combate à pobreza e estimular o crescimento dos países em desenvolvimento.

Em primeiro lugar, há que se discutir a tese da conspiração. É só imaginar a dificuldade de articular praticamente todos os países do mundo e fazê-los assinar um tratado internacional que versa exatamente sobre a mudança do clima.

Que forças ocultas seriam essas com tal capacidade de articulação? Essas mesmas forças seriam capazes de reunir cientistas do mundo inteiro em torno do Intergovernmental Panel on Climate Change (ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC) e convencê-los a acreditar no aquecimento global?

Vale lembrar que o IPCC não produz ciência como afirmam os céticos, mas compila a ciência produzida no mundo divulgando, periodicamente, os seus resultados.

E o que é mais importante, submete aos governos um relatório sucinto, residindo aí sua maior virtude: compromete os governantes com os seus estudos. Estes, aliás, nem sempre são conclusivos e estão associados a probabilidades.

É bom lembrar que o cético mais famoso, George W. Bush, desconfiado dos relatórios do IPCC, solicitou à Academia de Ciências Americana que os analisasse, esperando com isso que esta última desmentisse seus conteúdos. O resultado foi exatamente o oposto.

Ainda assim, os Estados Unidos se retiraram do Protocolo de Kyoto em uma decisão tomada sem amparo da ciência. Ainda que fosse possível articular governos e comunidade científica, seria muito difícil angariar o respaldo da mídia do planeta que, em uníssono, estaria patrocinando a “guerra contra a Civilização Industrial do Ocidente”.

No Brasil, vemos um espaço cada vez maior na mídia aos céticos. No programa do Jô Soares um professor da USP teve um enorme espaço para ridicularizar o aquecimento global, sem que a produção do programa se preocupasse em verificar a qualificação do mesmo sobre o tema.

Grandes jornais têm dado espaço a outros céticos que alegam ser objeto de censura das principais revistas científicas e da imprensa. Com isso, acabamos por desqualificar a ciência e importar discussões altamente ideologizadas.

Em pouco tempo estaremos discutindo a Teoria da Evolução e sugerindo estudo do Criacionismo em nossas escolas?

O papel da imprensa é, certamente, o de colocar todas as posições a respeito, mas isso não significa não checar as fontes e os fatos, especialmente no que diz respeito a ela mesma: há que se comprovar a existência de censura prévia aos “dissidentes” e não aceitar, sem postura crítica, a tese da conspiração.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 12 de julho de 2012.