A Política Ambiental do Governo Lula

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- outubro 10, 2013

Acabo de receber a notícia de que a Ministra Marina Silva teria pedido em caráter irretratável demissão do cargo de Ministra do Meio Ambiente.

Meu sentimento é ambíguo: de um lado um certo alívio pelo fato de que inequivocamente o governo Lula sempre demonstrou grande ambigüidade em seu compromisso com o meio ambiente e o Desenvolvimento Sustentável. No caso do desmatamento da Amazônia sua posição mostrou sempre enorme plasticidade a depender do público ouvinte.

Por outro lado a presença de Marina no Ministério sempre significou um aval ao governo Lula. Sua trajetória de vida, coerência, credibilidade, compromisso, enfim, sua vida sempre representou para toda a sociedade brasileira e para a comunidade ambientalista internacional a esperança em favor da sustentabilidade.

Quem, como eu, exerceu mandato no Parlamento ou cargo na administração pública sabe que existem momentos de grande dúvida sobre o papel que exercemos. No caso do meio ambiente sempre surgem conflitos pelo fato de que a sua defesa firme enfrenta interesses concretamente colocados e os prejudicados se articulam com maior capacidade do que aqueles que se beneficiam com a proteção do interesse público. Especialmente as futuras gerações.

No caso da Ministra Marina Silva certamente muitos dilemas foram por ela vividos. E ficamos do seu lado por saber que uma pessoa com seu patrimônio de integridade sempre amparou a sua escolha de integrar e permanecer no governo com a certeza de que com isso estaria contribuindo para causa maior. Nem sempre partilhei dessa escolha ainda que a respeitasse.

Nesse momento muitos fatores devem ter pesado na decisão da Ministra. Basicamente os índices de desmatamento da Amazônia contribuíram para que decidisse abrir mão do Ministério. Infelizmente a devastação desse bioma continua avassaladora, envergonhando a todos nós brasileiros, que não temos sido capazes de enfrentar essa trágica realidade.

Ainda que a Ministra e sua equipe tenham buscado um compromisso do governo como um todo no enfrentamento do problema, o que se viu foi a voz da Marina isolada do ponto de vista de ação efetiva no que tange a articulação em favor da chamada transversalidade. Ainda assim, a Ministra nunca perdeu a sua disposição em continuar lutando contra a omissão das outras áreas governamentais e a debilidade do próprio Ministério e do Ibama.

Mas se a questão da Amazônia é a mais emblemática em termos dos desafios nacionais, outras questões revelaram o descaso com o meio ambiente. Pela primeira vez na história bem sucedida do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores) a Petrobras se recusa com o maior descaramento a cumprir com as determinações do CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente, submetendo a população das regiões metropolitanas a respirar um ar de péssima qualidade. Como disse um médico sobre o assunto, pode-se receitar a um paciente exercício físico, dieta alimentar, mas não é possível recomendar que não respire o ar poluído de São Paulo.

Infelizmente, a saída da Ministra revela que a sua paciência se esgotou. Logo ela que pacientemente suportou nesses 6 anos as dificuldades típicas de um Ministério acanhado por todo tipo de pressão.

A Ministra deve estar aliviada.

O Presidente Lula também. A presença de Marina em seu governo sempre representou um constrangimento ético em favor da sustentabilidade.