A revolução silenciosa de algumas mulheres

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- setembro 30, 2013

Na semana passada houve a celebração do Dia Mundial do Meio Ambiente. Nada grandioso a comemorar, eis que o mundo está paralisado, ainda que tenha se ultrapassado a fronteira perigosa de concentração de dióxido de carbono na atmosfera.

Mas existem iniciativas em curso que representam uma revolução silenciosa importante na direção da sustentabilidade, como verifiquei em um evento organizado por Samyra Crespo, do Ministério do Meio Ambiente, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Um esforço liderado por mulheres visionárias, que estão colocando o Brasil em sintonia com a ideia de que o poder público pode e deve exercer um papel estratégico no mercado, estimulando a produção de bens e serviços sustentáveis. Nada mais razoável estimular os governos a adquirirem bens e serviços com critérios de sustentabilidade.

Com isso, muitos benefícios são alcançados: uma merenda escolar que evite açúcar, sal e gordura trans pode criar hábitos saudáveis para as crianças, economizando milhões de reais em gastos públicos com saúde; lâmpadas eficientes diminuem a necessidade de aumento da infraestrutura de oferta de energia, dispensando a necessidade de novas hidrelétricas, termoelétricas e usinas nucleares; e móveis de madeira certificada garantem menor exploração predatória dos biomas brasileiros tão ameaçados. A Mata Atlântica, por exemplo, teve, em Minas Gerais, um aumento inaceitável de perda de cobertura vegetal, transformada em carvão para atividades de siderurgia.

Nessa mesma Minas, a Secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, lidera as experiências mais inovadoras do país, tornando-as referência obrigatória para os outros estados e municípios. Em sua opinião, é um processo lento, mas irreversível que passa por uma mudança radical de mentalidade dos gestores públicos.

No início, há que se superar a compreensão equivocada de muitas consultorias jurídicas dos governos, que entendem que a lei de licitação não admitiria a modalidade de “licitação sustentável”. Mas as vantagens desta última são tão grandes e tangíveis que, pouco a pouco, ela está se consolidando no país.

O Ministério do Planejamento, por sua vez, com papel ativo de Nazaré Bretas tem realizado muitos esforços na direção de articular os outros ministérios e criar a plataforma que permita a implantação da licitação sustentável em toda a esfera federal.

A prova cabal de que tudo isso é para valer está no trabalho de Rejane Tavares da Fiocruz que, além de escrever sua dissertação sobre o tema, tem sido responsável por várias experiências inovadoras como a implantação da carona solidária naquela instituição. Isso é difícil por tratar de mudanças de hábitos, mas diante dos congestionamentos cariocas é inevitável.

O protagonismo dessas mulheres visionárias está hoje em discussão nas Nações Unidas, sendo que a Comissão de Alto Nível, organizada por Ban Ki-moon, para colaborar nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, elenca como uma das metas nacionais o percentual de compras sustentáveis dos países.

A Ministra Izabella Teixeira, que faz parte dessa Comissão, afirma que estamos realizando uma revolução silenciosa. Se temos algo a comemorar em relação ao meio ambiente, a verdade é que devemos muito a essas mulheres visionárias.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 14 de junho de 2013.