Abaixo o desperdício de recursos

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- outubro 7, 2013

Esta semana dois acontecimentos devem ser registrados: a expulsão do representante da ONG Human Rights Watch da Venezuela e a crise financeira global.

A gravidade de atitude do governo venezuelano se dá fundamentalmente porque sempre imaginei que a democracia estivesse assegurada na América Latina e episódios como esses fossem coisa do passado. Quanta desfaçatez expulsar, sem maiores explicações, uma entidade do país simplesmente pelo fato de discordar do seu relatório, sem contestar no campo democrático sem contestar com base em dados passíveis de verificação. Em se constatando inverdades, erros e até mesmo má fé, caberia à opinião pública julgar a entidade, promovendo as sanções cabíveis nesse caso: perda de reputação e credibilidade, essenciais a qualquer entidade séria da sociedade civil.

 

E o mais grave é que muita gente considera Hugo Chávez uma referencia importante no contexto geopolítico mundial, uma espécie de reserva de resistência ao “imperialismo norte-americano”. Lembro da realização de um evento do Fórum Social Mundial em Porto Alegre alguns anos atrás, no qual Chavéz foi aplaudido por milhares de participantes no estádio da cidade. Entretanto, não vi por parte de muitos dos presentes repúdio à conduta do presidente venezuelano, numa espécie de raciocínio ultrapassado – mas infelizmente vigente – de que devemos fazer um corte ideológico em relação à democracia e aos direitos humanos: a sua violação só deve ser condenada nos regimes com os quais discordamos.

Sempre é bom lembrar que o respeito aos valores democrático é um requisito essencial nos dias de hoje, não se justificando nenhum tipo de exceção. E mais ainda que atitudes como essa demonstram inequivocamente que não pode haver hesitação, pois sempre existirá vocação autoritária em nossas sociedades, desacostumadas historicamente a praticas democráticas.

A crise financeira global merece comentário simplesmente porque demonstrou que há um déficit inquestionável de ação pública de fiscalização sobre o mercado, derrubando o mito de que este é capaz de se auto-regular. O prejuízo da ação irresponsável das instituições financeiras norte-americanas é muito maior do que o valor a ser desembolsado pelo governo americano, uma vez que abalou o sistema financeiro mundial, revelando que há necessidade de mecanismo que assegurem a gestão adequada de instituições dessa natureza.

A economia em qualquer lugar do mundo depende de um ativo indispensável: confiança. Sem está corremos o risco de regredir muito no esforço mundial de aumento da poupança dos cidadãos, que se dispõem a fazer investimentos em ações desde que tenham a segurança minima de que seus esforços não se perderão por gestão fraudulenta de executivos com remunerações milionárias, além da absoluta ausência de fiscalização de instituições como a SEC (Securities Exchange Commision), equivalente a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) brasileira.

Certamente o que se espera é que esta crise tenha como benefício novos modelos de gestão de ativos financeiros, nos quais haja mecanismos de transparência e prestação de contas que evitem situações semelhantes no futuro, bem como punição severa a executivos cuja ação traga danos tão sérios à sociedade de maneira geral. Fico imaginando o que o contribuinte nos Estados Unidos pensa em termos do ônus que a ajuda do tesouro americano irá representar nas suas contas pessoais nos próximos anos. E mais que qualquer coisa, como esses recursos poderiam ser investidos em combate à pobreza, ao aquecimento global, enfim, em iniciativas que ajudariam em muito a se resolver problemas crônicos da humanidade.