Adeus, Wangari Maathai

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- outubro 14, 2013

Semana passada, o mundo perdeu uma das suas grandes personalidades, Wangari Maathai, a primeira africana a receber o Prêmio Nobel da Paz em 2004. A biografia dessa grande líder é inspiradora para todos: mulher, negra, de um continente esquecido, que na sua narrativa de vida sintetizou a ideia do desenvolvimento sustentável.

Maathai criou um movimento, no Quênia, de plantio de milhões de árvores, com o objetivo de combater a erosão que compromete a sobrevivência das famílias africanas e também assegurando fonte de energia daquelas. Uma ideia simples, com resultados mensuráveis e com um valor simbólico indiscutível pelo exemplo e possibilidade de replicabilidade.

O exemplo dessa mulher africana é fundamental neste momento de inércia e de grandes dificuldades em implementar medidas e ações tão importantes para a nossa sobrevivência no planeta: sempre é necessário repetir que a nossa geração tem a responsabilidade de combater o aquecimento global, reduzir as perdas da biodiversidade, evitar a destruição dos nossos oceanos e tornar as nossas cidades mais sustentáveis.

O que torna a nossa geração mais responsável é o fato de que, até poucas décadas, não tínhamos consciência do impacto da humanidade sobre o planeta, sendo que hoje, já se sugere que estaríamos vivendo uma nova era geológica, a do antropoceno. Quer dizer que a humanidade adquiriu uma força geológica, de acordo com o Prêmio Nobel da Química Paul Crutzen, que sugeriu este termo há alguns anos atrás.

Quando se constata a magnitude do problema, muitos passam a adotar uma atitude de negação do mesmo ou simplesmente de alienação: diante do caráter irreversível do aquecimento global, nada há o que se fazer.

Ou mesmo, a minha participação é tão pequena que deixa de ser relevante. Nada mais enganador do que este comportamento porque a solução do problema é complexa, mas depende do engajamento de cada um como indivíduo e também como ator social.

No primeiro caso, todos somos consumidores e temos um enorme poder de influência na economia, na medida em que politizarmos os atos mais simples do consumo. Cada um tem um grau de poder que uma vez utilizado faz a diferença.

O melhor exemplo do que estamos dizendo é a vida de Wangari Maathai, que em um país remoto conseguiu mostrar o poder transformador de cada um de nós. Na África, no Brasil e em muitas partes do mundo existem muitas Wangaris que fazem a sua parte e buscam, pelo exemplo, inspirar outras pessoas. Não podemos esquecer que, como ela mesma disse em suas memórias, nunca imaginou que seu movimento bem-sucedido iria lhe trazer o reconhecimento do Prêmio Nobel da Paz.

Grande parte de nós não tem noção de que os grandes movimentos de transformação se dão por atitudes simples. Ao se recusar a dar o seu lugar a um branco, Rosa Parks simbolizou a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Chico Mendes, no Brasil, simbolizou a luta pela conservação da Amazônia. O Betinho, na campanha contra a pobreza, fez o mesmo há alguns anos atrás. Os Villas-Bôas, na defesa das nações e direitos indígenas.

A história é feita por indivíduos que inspiram e mudam o curso da Humanidade: valeu, Wangari.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 3 de outubro de 2011.