Antropoceno: a nova era

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- outubro 14, 2013

Uma das características mais instigantes do momento que estamos vivendo é a discussão sobre uma nova era: o Antropoceno. A discussão sobre um novo tempo geológico, no qual a humanidade estaria exercendo uma força de modificação no planeta que seria equivalente ao que foram as forças geológicas na história da Terra.

O assunto foi matéria de capa da importante revista The Economist do mês de maio deste ano, de modo que não se trata, hoje, apenas de uma questão científica e, sim, da tomada de consciência de que estamos alterando as condições de vida do planeta em uma velocidade absurdamente rápida, caso levemos em consideração que a presença do homem enquanto espécie é relativamente recente.

A agricultura tem seu início considerado há pouco mais de 10 mil anos e o marco inicial das grandes transformações é o início da Revolução Industrial.

Mas se formos assumir um rigor maior, podemos dizer que a sociedade de consumo, marcada pela industrialização e urbanização, se iniciou após a Segunda Guerra Mundial, o que demonstra que praticamente adquirimos uma força geológica nos últimos 70 anos, período que envolve duas ou três gerações caso estipulemos o período de 25 anos para cada uma delas.

Este período é chamado de grande aceleração em artigo publicado pela Philosophical Transactions of the Royal Society, no qual, inclusive, são colocados vários indicadores que vão desde população, uso de água, consumo de fertilizantes, represamento de rios, até o número de restaurantes McDonald’s.

O importante a ser assinalado no conceito do Antropoceno é que ele traz uma nova era de responsabilidades, o que certamente é um marco divisor na história da humanidade.

Se outras sociedades humanas provocaram impactos a ponto de comprometer a sua própria sobrevivência, como demonstram estudos antropológicos recentes, hoje o que está em jogo é a própria condição de sobrevivência da humanidade e a sua capacidade de formular respostas para esse novo momento.

Aliás, quando se fala em novas responsabilidades, o que se pretende é assinalar a distinção entre responsabilidade e culpa, sendo que apontar esta última não parece uma alternativa viável para se encontrar a solução para esta crise.

Temos que, a partir da consciência do Antropoceno, colocar claramente o papel de cada um neste desafio, isto é, o papel de cada indivíduo, enquanto consumidor e cidadão, empresário ou profissional liberal, acionista ou investidor. Das nossas decisões, nas várias esferas em que participamos, dependerá o destino do planeta.

Os desafios para nossa geração não têm precedente na história da humanidade porque o tempo para agir é de 50 a 100 anos. Ou seja, temos que transformar essa consciência em ações muito concretas no dia-a-dia e rever nas mesmas, os valores praticados até aqui, fundamentalmente a partir da Segunda Guerra.

O fato de termos nos tornado urbanos não representa um problema em si, mas continuarmos insistindo em transporte individual inequivocamente vai nos paralisar nos congestionamentos gigantes e vamos perder anos de nossas vidas nos mesmos.

Citei o automóvel porque ele é o grande símbolo do século passado. Na era do Antropoceno, temos que procurar símbolos que permitam à humanidade usar a sua força em favor do planeta.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 24 de outubro de 2011.