Basta a impunidade

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- agosto 22, 2013

O Brasil, mais uma vez, se vê diante de um novo escândalo político: o pagamento de propina à secretários e deputados aliados do Governador do Distrito Federal. Realmente a desfaçatez integrou a prática política de alguns políticos, que, se antes diziam que os recursos se destinavam ao financiamento de campanha, hoje transformam o apoio político em mercadoria paga pelo contribuinte.

O problema é que a impunidade é a norma tolerada pela sociedade, uma vez que o poder judiciário requer uma tramitação muito longa em sua apreciação, e tais políticos acabam sendo reeleitos por força de campanhas milionárias e imbatíveis. E esse conjunto induz a sociedade a desvalorizar a atividade política e colocar todos os políticos no mesmo saco: todo mundo rouba e isto faz parte do jogo democrático.

Para minha geração, que lutou pela democracia, tais juízos são fatais. A médio prazo, se desvaloriza a representação política com graves prejuízos a valores fundamentais. E realmente é difícil demonstrar que a solução do problema passa por uma reforma política radical, que valorize os partidos políticos e os tornem mais aptos a prestarem contas à sociedade. Hoje a representação política tradicional já enfrenta dificuldades pela existência de um enorme conjunto de novos atores sociais, a exemplo das ONGs e a própria diversidade dos meios digitais, de modo que estamos diante de um desafio enorme, que se dá pelo convencimento do papel importante dos parlamentos nas várias esferas.

Como justificar 10 mil funcionários para 81 senadores? Como defender os mega orçamentos dos parlamentos pelo país afora? Como defender a ampliação do número de vereadores por recente iniciativa do Congresso Nacional? Como justificar a lentidão na apuração e posterior punição dos crimes praticados?

Acredito que o instrumento mais importante do cidadão é o voto.

Nas próximas eleições, de 2010, teríamos que nos esforçar no sentido de que faça constar na agenda dos principais partidos políticos a reforma política. Para isso, a exemplo do que ocorreu com o movimento das Diretas-Já e da própria Assembléia Nacional Constituinte, caberia à sociedade civil, ao setor empresarial cosmopolita e à própria mídia, a liderança desta iniciativa, “politizando” a campanha eleitoral.

O principal ganho seria o de fazer com que os partidos políticos deixassem de ser “partidos meramente eleitorais” e colocassem para a sociedade nas eleições seus programas, demonstrando coerência com suas práticas políticas. Com isso, o eleitor poderia, em última instância, usar o seu voto prestigiando aqueles candidatos coerentes com seus ideais e, ao mesmo tempo, punindo os corruptos e oportunistas.

O maior problema – como já disse – é que hoje o envolvimento em escândalos não significa necessariamente problemas eleitorais. Pode ser até que as campanhas desses candidatos se tornem mais caras e clientelistas por conta desses escândalos, mas, no entanto, as últimas eleições mostraram que mensaleiros se elegeram e muitos políticos sérios perderam a eleição. Isto porque os escândalos aumentam a descrença dos eleitores no sistema político de representação parlamentar, tornando-os mais apáticos e indiferentes às próprias eleições. Em outras palavras, todo mundo é igual e todos os políticos são ladrões.

Não há solução mágica: o país precisa amadurecer, melhorando a qualidade dos políticos e criando mecanismos ágeis de punição aos corruptos, separando, desse modo, o joio do trigo.

 

Artigo Publicado no Terra Magazine