Brasil: um país de obesos?

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- outubro 14, 2013

Semana passada uma matéria da Folha de S. Paulo sobre a greve do serviço funerário me chamou atenção. Um coveiro, Sr. Elias Azeredo da Silva, apontou a epidemia da obesidade como uma notável transformação da cidade de São Paulo.

Disse ele: “Atualmente, nossa maior dificuldade é lidar com o peso dos caixões. Não são raras urnas com até 200 quilos. E os servidores são em geral franzinos. Cordas e alça dos caixões arrebentam. Eu já vi uma corda se romper e o peso todo descer em cima do joelho de um colega.”

O depoimento do Sr. Elias é absolutamente surpreendente e deveria chamar a atenção dos nossos governantes.

De acordo com os dados do IBGE (2008 e 2009), uma em cada três crianças brasileiras de 5 a 9 anos está acima do peso. Os dados do Ministério da Saúde sobre o estado nutricional dos usuários da atenção básica à saúde para o Estado de São Paulo mostram que 37% dos homens e 17% das mulheres, entre 10 e 20 anos, apresentam sobrepeso.

Mais recentemente, a importante revista médica “Lancet” fez uma matéria especial sobre a questão da obesidade no mundo e a necessidade de políticas públicas para combatê-la, calculando que, em menos de 20 anos, os Estados Unidos irão alcançar mais de 150 milhões de obesos. Nesse estudo, ficou claro que o problema é global, de modo que a Organização das Nações Unidas (ONU) está organizando uma reunião de alto nível para discutir o assunto.

No Brasil, infelizmente a obesidade não está na agenda política, porque é um tema que não tem repercussão eleitoral. A razão é simples: políticas de combate à obesidade têm repercussão a médio prazo e requerem um enfoque multidisciplinar, além de exigirem, em muitas situações, o enfrentamento de interesses da indústria alimentícia.

Os especialistas apontam muitos caminhos: regulação dos alimentos, isto é, os mesmos devem conter menos sal, açúcar e gordura; a publicidade dos alimentos deve evitar que as crianças consumam produtos pouco saudáveis; as famílias devem ser educadas para terem uma dieta saudável e praticarem exercícios físicos. Enfim, políticas públicas que encarem o problema, envolvendo o poder público, o setor empresarial e a sociedade civil.

É importante compreender que o recente crescimento econômico do Brasil, traduzido no nosso PIB, não é capaz de incorporar essa dimensão negativa em termos da obesidade.

Em outras palavras, o brasileiro está gastando mais em alimentação, especialmente as novas classes médias. Mas não vejo esforços no sentido de esclarecer que, dependendo da qualidade dos alimentos, estamos gerando um exército de obesos hipertensos e diabéticos.

Defendo, inclusive, que se utilize a taxação para garantir que os alimentos saudáveis sejam competitivos em termos de preço, além de normas que obriguem os governos a escolhê-los nas suas compras.

Em São Paulo, existe uma agenda em curso sobre obesidade com o governador Geraldo Alckmin e com o Secretário da Saúde, Giovanni Cerri. Esperamos que a mesma prospere em favor da saúde pública dos brasileiros e para o bem estar dos nossos coveiros.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 12 de setembro de 2011.