Bruno Pagnoccheschi e a água doce do planeta

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- janeiro 30, 2014

Tenho me utilizado desta coluna no Brasil Econômico para chamar atenção sobre o importante papel de algumas pessoas na área de meio ambiente e sustentabilidade. Estas têm se dedicado a determinadas causas com resultados muito objetivos e concretos. No campo da biodiversidade, Carlos Joly, hoje diretor do Painel Multidisciplinar de Especialistas do IPBES – Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos; e José Pedro de Oliveira Costa, um dos grandes responsáveis pela conservação da Mata Atlântica e outros biomas brasileiros, mediante a criação de muitas áreas protegidas.

Hoje vou falar de Bruno Pagnoccheschi, que tem se destacado nas últimas décadas no desenho e fortalecimento institucional do setor público na área de meio ambiente. Bem como na esfera da sociedade civil. Entretanto, a maior contribuição de Bruno nos últimos anos diz respeito a um dos temas mais importantes e desafiadores da Humanidade: água doce.

Recursos hídricos são tratados no capítulo 18 da Agenda 21, sendo esta última um dos grandes resultados da Conferência do Rio de 1992. À época, a idéia consistia em elencar, em vários capítulos, os temas mais relevantes para que até o início do novo século houvesse a possibilidade de se implantar um modelo de desenvolvimento sustentável no planeta. O que explica seu nome.

De 1992 para cá, três temas adquiriram grande relevância: mudança do clima, biodiversidade e água. Os dois primeiros estão tratados por convenções e protocolos internacionais, sendo que, inegavelmente, o aquecimento global adquiriu um peso fundamental em nosso futuro, em grande parte pelo fato de que estamos enfrentando o relógio no que tange à tomada de decisão. Resta-nos poucos anos para que possamos reduzir o lançamento de gases efeito estufa na atmosfera, caso queiramos estabelecer um aumento de temperatura média do planeta em 2°C.

Em relação à biodiversidade, apenas recentemente foi criado o IPBES, com papel semelhante ao do IPCC: articulação do conhecimento científico em escala mundial sobre a matéria. Com objetivo de influenciar os tomadores de decisão públicos e privados.

Porém, quando se trata de água ainda há necessidade de pensarmos como tratar o assunto. De um lado, há um consenso de que devemos reconhecer o direito à água como integrante dos direitos humanos. Mas no que tange a um eventual marco regulatório internacional sobre a matéria, sobra muita controvérsia.

O Brasil é um país com uma condição muito privilegiada neste assunto pelo fato de sermos o portador da maior bacia hidrográfica do planeta e termos grande disponibilidade de água doce. Ainda que em muitas regiões do país já se constate escassez e cenários de disputa pelo recurso.

Possuímos uma Política Nacional de Recursos Hídricos. Além disso, a ANA – Agência Nacional de Águas, cuja criação simboliza a importância que se quer conferir à gestão de água no país, colocando-a em pé de igualdade com petróleo, telecomunicações e energia elétrica.

Em todo esse processo, há a impressão digital marcante de Bruno, que inegavelmente tem sido um dos grandes pilares na construção de políticas públicas nacionais e internacionais na gestão da água doce do planeta. Seu nome é uma unanimidade suprapartidária em toda a comunidade que se preocupa com o tema, de modo que sua trajetória é um exemplo a ser seguido por todos nós.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 30 de janeiro de 2014.