Capitalismo sustentável

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- outubro 10, 2013

Uma das grandes preocupações nos próximos anos é o aumento populacional. Chegamos a 7 bilhões de habitantes no mundo e caminhamos para 9 bilhões.

O mais alarmante nessa questão é que, de acordo com o estudo “Resource Revolution: Meeting the world’s energy, materials, food and water needs”, da consultoria McKinsey, a estimativa é a de que até 2030 teremos no mundo um acréscimo de 3 bilhões de consumidores pertencentes à denominada classe média, ainda que haja divergência quanto ao conceito de classe média.

Levando em consideração a população brasileira de aproximadamente 190 milhões de habitantes, isto significaria em torno de 15 vezes a população do Brasil.

É indiscutível, portanto, que este é um dos grandes desafios que temos pela frente em termos de “assegurar” a manutenção dos processos ecológicos essenciais do planeta e de suas regiões e, simultaneamente, atender as “demandas e valores” da sociedade. Este é um dos temas mais complexos e difíceis da Rio+20: como discutir estilo de vida e padrões de consumo em um mundo marcado pela chamada “sociedade de consumo”.

Uma das experiências profissionais mais interessantes que tenho vivido nos últimos anos tem sido participar do Conselho Consultivo de Mudanças Climáticas do Deutsche Bank, liderado por Caio Koch-Weser, um brasileiro que hoje é vice-presidente daquela instituição, a quem considero um dos grandes líderes do planeta.

Este conselho tem por objetivo assessorar o banco na gestão de questões estratégicas ligadas às mudanças climáticas e é formado por dez especialistas do setor empresarial, da política e da comunidade científica.

A ideia de um conselho dessa natureza para trabalhar com o staff do banco sobre temas como mudança do clima, energia, economia verde representa um sinal importante de que há razões objetivas para que sejamos otimistas com relação ao desenvolvimento sustentável e ao planeta.

Por ocasião da Rio92, seria praticamente impossível imaginar que uma das maiores instituições financeiras do mundo pudesse ter na sua agenda tais temáticas e inseri-las no seu “modelo de negócio” com a finalidade de identificar oportunidades e riscos.

Em reunião realizada há poucos dias em Londres, a discussão foi sobre sustentabilidade e longo prazo com inspiração em artigos recentemente publicados pela Harvard Business School, McKinsey e pela empresa de investimentos do ex-vice-presidente Al Gore.

Tais artigos sugerem, entre outras recomendações: substituir o curtíssimo prazo pelo longo prazo; incorporar a perspectiva de que não há conflito entre se agregar valor aos stakeholders das empresas e, simultaneamente, a elas também; adotar práticas permanentes de “prestação de contas” em relação à sustentabilidade (relatórios de sustentabilidade) e criar mecanismos de compensação para sustentabilidade a longo prazo.

Diante dos impasses e dificuldades enfrentadas pela Rio+20, não há dúvida de que iniciativas como a do Deutsche Bank são inspiradoras e devem se transformar em referência para outros setores da economia. Possui o que é o grande passaporte para uma agenda do século XXI: visão, liderança e prática. Se este exemplo for seguido, podemos ter esperança de que “economia verde” é possível e não retórica vazia de gente descomprometida com o futuro.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 24 de maio de 2012.