Consumo sustentável e a economia circular

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- setembro 30, 2013

Um dos grandes desafios do desenvolvimento sustentável é assegurar o bem estar das populações pobres, permitindo o acesso a bens de consumo e, simultaneamente, criando condições para que este aumento não traga impactos ambientais negativos.

Parece uma equação de difícil alcance face aos limites planetários por mim já comentados nesse espaço. Um dos poucos avanços da Rio + 20 em seu documento final, pela liderança do Embaixador André Corrêa do Lago, foi a inclusão do tema – Consumo e Produção Sustentáveis – que, de certa maneira, foi pouco abordado em 1992.

Infelizmente, o crescimento econômico de países como China, Índia e Brasil traz uma repercussão considerável no uso de recursos naturais e no lançamento de poluição com as graves consequências que conhecemos.

Estudo recente da McKinsey, “Resource Revolution: Meeting the world’s energy, materials, food and water needs”, estima que até 2030 teremos um acréscimo de 3 bilhões de consumidores pertencentes à denominada classe média. Já a KPMG, no relatório “Expect the unexpected”, conclui que o setor empresarial deve incorporar as externalidades negativas, ou seja, além das demonstrações financeiras tradicionais, precisa contabilizar seu impacto ambiental.

Para enfrentar esses desafios, é necessário o uso de fórmulas inovadoras. Ao invés de se pensar tão somente na venda de bens de consumo, promover a ideia da venda da prestação de serviços a eles associados.

Por que não vender o serviço de refrigeração ao invés de geladeiras? Esta mudança conceitual poderia ser aplicada em relação aos fogões, televisores, máquinas de lavar louça e roupa, computador, ar condicionado, dentre outros.

E qual seria a vantagem desta inovação conceitual?

A grande virtude dessa proposta é que, com ela, haveria a possibilidade de se assegurar que tais bens de consumo atendessem aos mais rígidos padrões de eficiência energética, de conservação de uso da água e outros padrões estratégicos de sustentabilidade.

Vale lembrar que todos ganhariam: o consumidor, por usufruir bens tecnologicamente modernos e com a diminuição de sua conta de luz, água etc. O empresário poderia, com isso, fidelizar a clientela e economizar no frete da entrega do bem a ser substituído.

E mais do que isso, promover a destruição desse último, garantindo matéria prima para a siderurgia e promovendo a economia circular. A sociedade teria ganhos substanciais: economia de recursos naturais, menos investimentos em infra-estrutura energética, diminuição da demanda de aterros sanitários, prevenção da contaminação de lixo eletrônico. E até mesmo, menor congestionamento causado por caminhões de entrega.

No Brasil, temos uma cultura de compras parceladas, o que facilitaria a implantação deste novo modelo. Poderíamos começar com bens da linha branca e, a partir da daí, o céu é o limite em duplo sentido.

Caberia ao Poder Público, em articulação com o setor empresarial e entidades do consumidor, transformar essas ideias em boas políticas públicas, incorporando a ideia de ciclo de vida do produto.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 11 de abril de 2013.