De quem é a culpa?

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- outubro 7, 2013

As notícias sobre o aumento da inadimplência no Brasil são assustadoras. E o que torna este fato preocupante é que os níveis de emprego formal continuam altos, ou seja, parte da responsabilidade é do setor financeiro que avaliou mal a capacidade dos tomadores de empréstimos de honrarem seus compromissos.

No caso de financiamento de automóveis, além do pagamento das prestações mensais, existem outros compromissos como o IPVA, a manutenção do veículo e, eventualmente, o seguro.

O que estamos assistindo é uma tentativa de se transferir o ônus das más decisões de quem emprestou para a sociedade, em um modelo de “capitalismo tupiniquim”: capitalismo sem riscos, refletindo-se nas taxas de juros.

Aliás, a inexistência de um cadastro positivo sempre foi apontada como uma das razões para explicar as altas taxas nacionais, mas não se vê, no país, uma diferenciação na taxa para o bom pagador.

Há poucos meses atrás, tentei comprar uma geladeira à vista, mas o que constatei foi que o preço em várias parcelas é o mesmo.

Em nenhum momento foi dada a possibilidade de um desconto, o que seria absolutamente normal. O Ministério Público paulista recentemente perdeu uma ação judicial na qual questionava esta prática.

Na conversa com a vendedora, esta ingenuamente me disse que eu era o primeiro cliente a questionar a inexistência de desconto e que a única preocupação dos compradores era a de inserir o valor da prestação no seu orçamento.

Com certeza é necessária a inclusão dos mais pobres no consumo, sendo legítimas as políticas públicas que se dão nesta direção.

Mas isto não é a mesma coisa do que se estimular as famílias a consumir além do que a sua renda comporta, especialmente na aquisição de bens que não seriam normalmente os mais necessários para o seu bem estar.

Em alguns setores, a publicidade maciça estimula péssimos hábitos. É o caso da indústria de alimentação. Como consequência, estamos assistindo a um gravíssimo aumento da obesidade e de diabetes no país em função desses péssimos hábitos alimentares.

A questão se torna ainda mais difícil de ser debatida pelo fato de que os políticos não querem perder o apoio das classes emergentes, ainda que estas, em última instância, pagarão essa conta: no caso da obesidade e diabetes, diminuindo a sua expectativa de vida, além dos altos desembolsos que o sistema público de saúde irá realizar nos próximos anos.

Não se deve esquecer que este consumo está gerando maior arrecadação no curto prazo e, com isso, garantindo maior chance de permanência dos políticos no poder.

Os nossos pais poupavam no sentido mais amplo do verbo, pensando sempre em garantir boas oportunidades para seus filhos. Largavam suas cidades e países de origem e buscavam novos horizontes em países como o Brasil.

Precisamos nos inspirar nessa ideia de criar um futuro melhor, estabelecendo novos pactos com a sociedade, ao invés de ficarmos aprisionados por satisfações efêmeras.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 26 de julho de 2012.