Dilma na ONU: a crise econômica e a Rio + 20

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- outubro 14, 2013

A participação do Brasil e da presidente Dilma Roussef nas Nações Unidas certamente é um marco importante, como foi por ela assinalado.

Dentre as razões destacadas estão: o simbólico de uma mulher abrir a Assembleia Geral; a colocação de que há que se resolver a questão do Oriente Médio com o reconhecimento do direito de existência do Estado de Israel e a criação de um Estado Palestino; a gravidade da crise econômica; a necessidade de novos arranjos institucionais que possam melhor refletir a realidade geopolítica internacional e a necessidade da desnuclearização do planeta.

Embora não tenha sido eleitor da presidente Dilma, assinalo a importância de que em uma nova prática política se reconheça os méritos do outro, sendo que a presidente está impondo o seu próprio estilo na política internacional e tenta fazer o mesmo no plano interno do país.

A principal crítica ao discurso da presidente nas Nações Unidas se deve ao fato de que, embora tenha destacado que o Brasil, no esforço do combate ao aquecimento global, aceita compromissos e também espera que a Rio + 20 se transforme em uma reunião prestigiada por chefes de Estado, tais afirmações se deram fora do contexto da crise econômica mundial.

Ou seja, creio que o Brasil perdeu a oportunidade de afirmar, com ênfase, que parte da solução da crise econômica pode ser equacionada com investimentos na economia verde e no combate à pobreza.

No momento em que as questões são colocadas como departamentos separados, esvazia-se o potencial de que a Rio + 20, de fato, seja um grande marco na história da humanidade, como ocorreu no Rio, em 1992.
Mais desafiadora do que a crise econômica mundial é a crise ecológica do planeta. Chegamos a um momento em que a humanidade tem que radicalizar a mudança de paradigma da sua relação com a natureza, o que é fundamentalmente uma questão econômica.

Como disse Marcelo Takaoka, em reunião ocorrida no Comitê de Mudanças Climáticas da Prefeitura de São Paulo, as chamadas externalidades negativas devem incorporar os preços dos bens e serviços. E devemos monetizar as externalidades positivas, no sentido de atribuir valor econômico às mesmas.

No calendário internacional, a reunião do ano que vem é a mais importante desta década para que se pactue as medidas necessárias para enfrentar com senso de urgência as duas crises.

Entretanto, como mencionou o embaixador André Corrêa do Lago, devemos evitar armadilhas que não permitam que a reunião seja bem-sucedida: os países desenvolvidos têm que dar o exemplo, inovando nos seus padrões de consumo e estilo de vida, uma vez que os mesmos não podem ser replicados para o planeta. Por outro lado, países como Brasil, China, Índia e África do Sul não podem imaginar que poderão ingressar na sociedade de consumo com os padrões dos países desenvolvidos.

Eduardo Jorge, Secretário Municipal do Verde e Meio Ambiente, foi aquele que sintetizou melhor os desafios que temos pela frente. Temos que dar opções para as donas de casa nas suas compras no supermercado. Essa é a verdadeira mudança na economia que depende da política: setor empresarial cosmopolita, sociedade civil e o mundo da ciência formulando políticas públicas que permitam aos cidadãos do planeta serem sustentáveis.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 26 de setembro de 2011.