Dois eventos marcaram profundamente a ultima semana e certamente a história do mundo: as enchentes de Santa Catarina e os atentados terroristas em Mumbai, na Índia. Em ambos os casos, é impossível imaginar a dor das centenas de pessoas que terão suas vidas transformadas para sempre.
É inacreditável, mesmo depois de décadas participando da vida pública, lidando com os mais diversos setores da sociedade na batalha pela defesa dos interesses coletivos e difusos, como ainda consigo ser surpreendido pela complexidade humana. Ao mesmo tempo em que presenciamos manifestações de terror, ódio e intolerância nos episódios de Mumbai, vimos cidades inteiras pelo brasil se mobilizando em ações de solidariedade das vitimas das enchentes em Santa Catarina. Como uma mesma espécie pode ser capaz de ter atitudes tão terríveis umas vezes e outras tão magnificas?
No entanto os dois eventos possuem mais similaridades do que antagonismo. O que é que os une de fato então? Não tenho dúvidas de que o ponto de convergência está na dificuldade que temos, de maneira geral, em enxergar a correlação de fatos que não possuem relação direta de causa e efeito. Entendemos em teoria que todos nós fazemos parte de um mesmo sistema, ms na pratica agimos como se existissem sistemas isolados e independentes.
De acordo coma teoria de sistemas complexos, toda interferência no sistema gera uma resposta, seja ela positiva ou negativa. O problema está justamente no fato de que muitas vezes essa resposta não é imediata, dificultando a percepção do agente que sua ação é responsável por determinado distúrbio.
Mas como isso traduz nos eventos da semana passada? No caso de Mumbai, apontar dedos para grupos paquistanenses, indianos, afegãos ou de qualquer outro canto do mundo me parece uma atitude demais simplista e míope. Se o combate ao terrorismo fosse apenas uma questão de identificação e controle de determinados grupos não haveria razão para termos, ainda hoje, tantos “inimigos” espalhados pelo mundo.
O terrorismo é um sintoma, não um fim em si mesmo, de uma intolerância generalizada. Não uma intolerância de origem indiana ou paquistanesa, mas que se faz presente no mundo inteiro, evidenciando a dificuldade crescente de reconhecermos no próximo o que temos de semelhante e valorizar e respeitar o que temos de diferente.
No caso de Santa Catarina, por mais que não se possa afirmar que a tragédia é resultado direto das mudanças climáticas, certamente o descaso com a área ambiental, a remoção crescente de cobertura florestal nativa e a ocupação desordenada do solo, sempre em nome do “desenvolvimento”, fazem hoje com que o estado regrida escandalosamente em termos de desenvolvimento humano e qualidade de vida para a população.
A incapacidade de perceber que pequenas decisões banais do nosso dia-a-dia geram sim consequências graves, sem duvida alguma poderá reproduzir eventos como as enchentes de Santa Catarina ou os atentados de Mumbai em escala ainda maior em diversas partes do mundo.
A resposta para esse paradoxo humano, infelizmente, dificilmente ode ser encontrada por apenas um individuo. Ela deve ser buscada por todos os indivíduos habitantes deste planeta, ciente de que não existe ação isolada e independente, e que uma nova forma de nos relacionarmos uns com os outros e com o ambiente quenos sustenta é urgente e necessária.