Engarrafamentos: o futuro que o governo planeja

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- setembro 30, 2013

É impossível deixar de comentar as declarações da presidente da Petrobras, Graça Foster, em entrevista recente ao jornal Zero Hora (13/04/13): “Acho lindo engarrafamento. Meu negócio é vender combustível”.

Elas refletem o aspecto de sinceridade de uma pessoa que ocupa um dos mais cobiçados postos da República: a estatal tem orçamento maior que muitos ministérios, estados e capitais brasileiras, sendo também a maior compradora de bens e serviços do mercado.

Vale lembrar que a madrinha de Graça é nada mais, nada menos que a Presidente Dilma.
A Petrobras, na gestão de seu ex-presidente, enfrentou uma polêmica importante com ambientalistas ao se negar a cumprir a Resolução do Conama 315/2002, que garantia a disponibilidade de um diesel com menor teor de enxofre.

Após a exclusão da empresa do ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa e da retirada, pelo Conar – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, de publicidade que afirmava seus “atributos ambientais”, houve um acordo judicial que, enfim, obrigou a empresa a respeitar a legislação ambiental brasileira.

É importante lembrar que o Conselho de Administração da Petrobras à época era exercido pela Presidente Dilma Roussef, o que significa que a mesma participou direta ou indiretamente das decisões administrativas tomadas naquele período.

Recentemente, a prefeitura de São Paulo promoveu radicais mudanças no Programa Paulistano de Inspeção e Manutenção Veicular com grave repercussão à saúde da população, a pretexto de garantir uma economia de R$ 0,12 por dia aos paulistanos proprietários de automóveis e uma economia de no máximo duas horas anuais para a realização do teste de inspeção.

Redução de impostos dos automóveis e facilitação do crédito completam a obra do governo federal que está transformando, a cada dia, as nossas cidades em “grandes estacionamentos ambulantes”. E com o beneplácito explícito da oposição, se é que ela existe.

Bandeiras a favor de transporte público barato, eficiente e não poluidor não encontram ressonância entre os principais partidos políticos do país.

Como consequência, nos aproximamos de novos tempos nos quais o rodízio de automóveis será implantado em praticamente todas as cidades médias brasileiras, pela falta de outra alternativa que permita a mobilidade mínima nos sistemas viários destas cidades.

A minha geração era portadora de uma esperança ingênua de que a democracia abriria as portas para a discussão de políticas públicas que permitissem uma melhoria na qualidade de vida dos brasileiros. E, mais do que isso, assegurar às futuras gerações melhores oportunidades em termos de saúde, educação, segurança e sustentabilidade.

Contudo, o que temos constatado é a substituição de uma visão necessária de médio prazo por políticas de impacto imediato, que comprometem o futuro. Qualquer futuro.
Graça Foster revelou, na sua sinceridade, o que o governo federal planeja para as nossas cidades: um caos urbano comprometendo as nossas vidas.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 18 de abril de 2013.