Grandes desafios nas novas doenças e medicamentos

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- setembro 30, 2013

Recentemente fui diagnosticado com uma infecção denominada histoplasmose, também conhecida como doença de caverna, cuja causa é um fungo chamado Histoplasmacapsulatum.

Dos sintomas como febre e sudorese até o diagnóstico, algum tempo se passou, com a ansiedade que toda falta de certeza traz em se tratando de saúde. ,

A existência de uma lesão no pulmão certamente auxiliou a identificação da doença. Acabei tomando conhecimento de que aproximadamente 75% das novas doenças infecciosas em humanos são zoonóticas.

Essas doenças são predominantemente provenientes da fauna silvestre e muitas delas são induzidas e/ou amplificadas por fatores ambientais como o clima e poluição.

De acordo com carta publicada na revista Science (16/03/12), “Add ecology to the pre-medical curriculum”, subscrita por cientistas de várias instituições científicas americanas, torna-se cada dia mais importante entender o papel de interação das espécies entre si e com o meio ambiente, com o objetivo de facilitar o diagnóstico e a respectiva medicação.

No Brasil, esta questão se torna mais relevante pelo fato de que, ao expandirmos as fronteiras agrícolas, estamos suprimindo alguns biomas praticamente intactos e, com isso, abrindo a possibilidade de novas doenças, além daquelas já conhecidas como a malária.

Mas o que julgo mais importante na discussão proposta nesta carta é a recomendação de que os currículos médicos “contemplem a relação da saúde humana com os processos ecológicos relativos à diversidade taxonômica de algumas espécies”.

Aliando-se a isso, o fato de que a maior parte dos remédios mais utilizados e recentemente aprovados no FDA – Food and Drug Administration deriva de produtos naturais, fica claro que assuntos como esse devem estar mais presentes na agenda brasileira, já que somos detentores de grande parte da biodiversidade do planeta.

Assinalar a importância da biodiversidade como potencial geradora de novos medicamentos, torna-se um argumento forte diante dos dados ainda preocupantes de desmatamento na Mata Atlântica, na Amazônia e no Cerrado.

No caso da Mata Atlântica, em que pese a existência de uma legislação específica que a protege, Minas Gerais, de acordo com dados do Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, elaborado pela Fundação SOS Mata Atlântica, é o estado campeão de desmatamento deste bioma.

Hoje não temos condições sequer de avaliar o real significado dessa perda em termos do potencial de medicamentos que dali poderiam surgir.

A ampliação dos currículos com a incorporação de novos temas é importante para alavancar uma agenda contemporânea, notadamente em relação aos desafios hoje colocados pela comunidade científica no que tange ao planeta.

Em recente debate promovido pela Sabesp, um dos temas discutidos foi o impacto local e global do nitrogênio sobre os corpos d’água: o tratamento secundário das estações de esgoto não é capaz de impedir que o nitrogênio comprometa a qualidade dos nossos rios. Mas este assunto está ausente das discussões de saneamento no Brasil.

Em 2010, foi divulgado um estudo na Europa, “Building the Foundations for Sustainable Nutrient Management”, que abordou essa temática em profundidade. Dilma Pena, uma das principais lideranças visionárias do Brasil, inicia a discussão no âmbito da Sabesp: que seja bem sucedida.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 4 de julho de 2013.