No mundo o tema é a crise.

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- setembro 12, 2013

Como já dissemos anteriormente nessa coluna estamos diante da oportunidade de redirecionarmos a sociedade em que vivemos na direção da sustentabilidade, ou seja, redesenharmos as instituições, o marco regulatório, criarmos novos espaços de participação mais democráticos. Enfim assegurarmos melhores condições de prosperidade para todos.

Não há como deixar de mencionar que a eleição de Obama nos EUA significa um capital de mudanças, tema da campanha, e de esperança que a maior potencia mundial assuma uma liderança pró ativa em favor de condições globais que alavanquem a economia mundial com o objetivo de assegurar maior equidade na distribuição dos benefícios do crescimento econômico, maior igualdade de oportunidades individuais. E também combate ao aquecimento global, através de criação de uma infra estrutura de oferta de energia mais limpa e de uma melhor organização de sua demanda, entre outras iniciativas importantes.

No Brasil infelizmente não se vislumbrou a oportunidade de se combater a crise e ao mesmo tempo se promover inovações importantes no campo da sustentabilidade. Vimos o governo federal e o de São Paulo auxiliar as montadoras de veículos com a finalidade de assegurar a produção industrial através da manutenção do crédito, entretanto, sem se exigir medidas de eficiência nos padrões de consumo dos automóveis, o que traria benefícios ao consumidor na ponta, bem como ao país em termos de menor demanda de energia.

Fico surpreso com o fato de que não conseguimos inovar nessa agenda, valendo lembrar que há décadas os EUA definem padrões de eficiência para os automóveis, mesmo quando o Brasil sofreu severamente a crise do petróleo na década de 70. Os mais jovens não vão se lembrar, mas o abastecimento nos postos ficou proibido nos finais de semana, e muitas medidas semelhantes foram adotadas, a exemplo do compulsório sobre a venda dos combustíveis.

Conversando com os ambientalistas a esse respeito sempre surge a questão: por que é tão difícil convencer os governantes a respeito de medidas como a que estamos discutindo nesse artigo? O que é necessário para avançar concretamente em questões como a do aquecimento global, combate à poluição do ar nas grandes regiões metropolitanas, enfim, tornar esses temas itens prioritários na agenda do país?

Marcos Vale, ambientalista de longa data, acredita que o ambientalismo contemporâneo deve fazer frente às complexidades da sociedade em que vivemos e deve ser capaz de apresentar soluções inovadoras na forma e no conteúdo. Em outras palavras sugere que sejamos capazes de articular parcerias estratégicas com o setor empresarial, bem como mobilizar a sociedade em questões emblemáticas. É otimista em termos da capacidade do próprio movimento se reinventar e que não se pode menosprezar o grau de consciência que a própria sociedade tem dos problemas ambientais.

Certamente os próximos meses serão decisivos para o futuro próximo, de modo que as decisões a serem tomadas terão enorme impacto nas próximas décadas. O ambiente criado pela crise propicia e requer que sejamos capazes de repensar a economia globalizada, uma vez que está claro que o poder público nacional e internacional tem um papel relevante no processo de resolução dos problemas: em outras palavras a hora é propícia para uma agenda de transição na qual se tenha clareza de que é possível se colocar ou recolocar a idéia da sustentabilidade ou do desenvolvimento sustentável, não como uma abstração a exemplo da Eco 92, mas como uma equação de caráter operacional que compatibilize crescimento econômico, justiça social e respeito ao meio ambiente com visão de longo prazo.

Para usar uma expressão típica das discussões climáticas, trata-se de se mudar o “business as usual” por uma visão que inove de modo que a vida também seja diferente a partir de agora, com novas práticas e valores que permitam maior bem estar para todos sem comprometer as futuras gerações.

 

Publicado no Terra Magazine