Novos desafios para o setor empresarial

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- agosto 21, 2013

Em minha coluna passada, comentei sobre um projeto do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces), denominado Empresas pelo Clima (EPC), e sobre o Programa de Capacitação que seria promovido pelo GVces, no sentido de reunir empresas e prepará-las para enfrentar o desafio das mudanças climáticas, incorporando o tema em suas atividades, através da elaboração de políticas corporativas de clima. Gostaria então de compartilhar um pouco desse programa, que significou para mim um momento de muita troca e ganho de experiência.

Como já mencionei diversas vezes nesse espaço, tenho me envolvido muito na elaboração de legislação acerca do tema do aquecimento global, a exemplo da Política Nacional de Mudanças Climáticas, Política Estadual de Mudanças Climáticas e a Política Municipal de Mudanças Climáticas, que se tornaram marcos regulatórios importantíssimos para o país e têm contribuído enormemente na posição brasileira nas negociações internacionais sobre clima. No entanto, acredito que um dos aspectos mais importantes para a implementação dessas políticas é o engajamento do setor empresarial. Em outras palavras, podemos dizer que a legislação é uma condição necessária, mas sozinha ela não é suficiente, sendo necessária a inclusão setor empresarial como parte do processo. Profissionalmente, tenho trabalhado muito nesse sentido, ou seja, buscando apoiar e orientar empresas a se engajarem nessa temática e a enxergarem nela uma oportunidade de negócio e inovação.

O evento promovido pelo GVces define claramente a necessidade das empresas em se posicionarem em relação ao assunto e, além disso, a importância da busca por subsídios e informações que possam criar o senso de urgência para a ação no que tange às mudanças climáticas. Nesse sentido, é fundamental que as lideranças pela sustentabilidade, dentro das empresas, busquem antecipar tendências futuras e incorporá-las em seu planejamento estratégico. Muitas empresas participaram do encontro, dentre elas: Natura, Camargo Corrêa, Cia. Vale do Rio Doce, Santander. Pude observar diversos exemplos de sucesso no encontro, sempre mostrando a importância de iniciativas que vêm sendo tomadas, tais como consulta aos stakeholders e ações pró-ativas, gerando maior valor agregado ao produto e aumentando o capital reputacional da empresa, dentre outras.

Acredito que as empresas estão encarando o tema do clima numa perspectiva bastante ampla, entendendo o real desafio colocado à humanidade pelo aquecimento global. O enfrentamento a esse desafio é também uma oportunidade única para inovar. Nesse sentido, a sociedade desempenha um papel fundamental ao passo em que ela, cada vez mais, pressiona os governos, exigindo mais regulação, e pressiona as empresas, exigindo maiores esforços.

Ficou claro também, nesses dois dias de evento, a importância da liderança à frente desse desafio. O processo de construção de uma política corporativa de mudanças climáticas exige a presença de uma liderança altamente engajada e envolvida. Nas conversas havidas durante o Programa, nos almoços e corredores, discutiu-se muito o perfil que tal liderança deve ter. Algumas qualidades foram tidas como essenciais: integridade, tenacidade, boa capacidade de ouvir, objetividade, capacidade de resolução de conflitos, empatia pelo trabalho em equipe e, muito importante, saber desenvolver o talento dos outros.

Artigo publicado no Terra Magazine em: 06/02/2010.

Essas habilidades foram consideradas unânimes no perfil de um líder de sustentabilidade, uma vez que, além de essenciais para o bom gerenciamento de uma equipe, elas se refletem também em um resultado positivo ao cliente, que fica mais satisfeito com o produto, obtendo um maior valor agregado ao serviço que lhe é oferecido. Definitivamente, todos ganham nesse processo.

 

Os desafios a nossa frente são muitos: compromissos com redução de emissão de gases efeito estufa, fortalecimento e engajamento de lideranças dentro e fora das organizações, definição de estratégias para incorporar as novas legislações brasileiras a esse respeito e, ainda, estimular tanto a adoção de políticas corporativas de mudanças climáticas quanto a “imaginação competitiva” do setor empresarial. No entanto, é em eventos como esse que podemos ver concretamente tudo o que vem sendo feito pela sustentabilidade, que podemos nos inspirar para agir continuamente, que podemos trocar idéias e ainda aprender com as experiências dos outros sobre como incorporar definitivamente o tema das mudanças climáticas na agenda empresarial.