O chanceler Figueiredo e a COP 19

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- setembro 5, 2013

Em novembro deste ano, ocorrerá em Varsóvia, na Polônia a Conferência das Partes sobre Mudança do Clima, a COP 19.

 

Apenas a título de esclarecimento, a COP é a reunião dos países que assinaram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, com o objetivo de discutir basicamente a sua implementação.

 

No caso deste tema, essas conferências se realizam anualmente, sendo que algumas delas, pela agenda, são mais importantes, a exemplo da COP 3 que se realizou em Kyoto, oportunidade em que foi assinado o Protocolo de Kyoto. Mais recentemente, a COP 15 de Copenhague se destacou pela expectativa criada em torno de compromissos efetivos de redução de gases efeito estufa (GEE), o que não se realizou.

 

Podemos afirmar que a expectativa em relação à Copenhague se deveu, basicamente, à divulgação do 4º Relatório do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas em 2007. Este veio confirmar a urgência de se reduzir o lançamento antrópico de GEE, com a finalidade de se assegurar o equilíbrio do sistema climático do planeta. À época, o Relatório causou uma grande comoção na opinião pública por revelar a ampliação do consenso da comunidade científica sobre a existência do aquecimento global e suas graves conseqüências. Hoje, muitos consideram que aquele Relatório foi conservador em alguns aspectos por não prever a velocidade do degelo do Ártico e de parte da Antártida.

 

Nos próximos meses, o IPCC passará a divulgar o seu 5º Relatório, mas é difícil prever o seu impacto nos governos e na opinião pública: desde o fracasso de Copenhague houve um esvaziamento das discussões sobre o aquecimento global, facilmente perceptível na mídia, no próprio mercado de carbono e no engajamento empresarial necessário para se reduzir as emissões. Estas, aliás, continuam crescendo.

 

No jogo geopolítico todos esperam uma pactuação entre EUA e China, os maiores emissores de GEE. O presidente Obama, aparentemente, abriu mão de deixar um grande legado da sua administração neste tema, ainda que ele tenha mencionado em seu discurso anual, o “State of the Union”, seu compromisso de agir. A China, por sua vez, dá sinais ambíguos em relação a compromissos internacionais, ainda que na agenda doméstica esteja enfrentando cada vez mais problemas de poluição ambiental.

 

Países como o Canadá, Japão, Rússia e Nova Zelândia abandonaram o Protocolo de Kyoto. E os europeus, por sua vez, se sentem prejudicados por estarem carregando sozinhos os esforços de mitigação. No caso do Japão, Fukushima liquidou a sua opção pelo nuclear, obrigando-os a usar energia fóssil.

 

O Brasil, com a nomeação de Luiz Alberto Figueiredo para o Itamaraty tem toda a condição de fazer a diferença nessa geopolítica do descaso, por conhecer como poucas pessoas no mundo estas negociações. Aliás, sua aproximação com a presidente Dilma se iniciou em Copenhague e certamente ele possui toda condição de convencê-la que esta deve ser agenda prioritária da política externa brasileira.

 

Ainda que as expectativas em relação à Polônia não sejam grandes, lembrando que os movimentos de rua demonstraram que a política não é linear, vamos nos preparar para tornar a COP 19 naquilo que não conseguimos em Copenhague.

Texto publicado no Jornal Brasil Econômico em 05 de setembro de 2013.