O discurso de Obama e de Marina Silva

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- setembro 30, 2013

Na semana passada, o presidente Obama fez seu discurso anual denominado State of the Union. Trata-se de uma prática constitucional americana, na qual o chefe do Executivo presta contas de suas atividades do ano anterior e resume seus planos para o ano em curso.

Há alguns anos, assisti ao discurso do presidente George Bush no Congresso americano. Desde então me pergunto por que o Brasil não introduz iniciativa semelhante em todas as esferas da Federação.

É a oportunidade na qual o presidente define a “agenda” de seu governo dando ênfase a determinados assuntos e, com isso, gerando um debate salutar na sociedade. Alguns discursos históricos foram feitos no State of the Union, cabendo ressaltar o do presidente James Monroe, que lançou nesta ocasião a Doutrina Monroe.

O State of the Union traz um significado especial para a democracia, uma vez que o presidente realiza o mesmo na sede do Parlamento e diante de todos os parlamentares.

No Brasil, por sua vez, o presidente, quando discursa, o faz no Palácio do Planalto com a presença basicamente dos parlamentares que formam a sua base de apoio.

No caso do último discurso de Obama, alguns recados importantes merecem ser assinalados: o presidente reafirma o seu compromisso com a questão climática, apontando investimentos em energia renovável como alternativa eficaz aos combustíveis fósseis.

E afirma que, caso o Congresso deixe de atuar, o executivo americano tomará iniciativas no sentido de combater o aquecimento global.

Mencionou investimentos nas “Best Ideas” (Melhores Ideias), fazendo referência a novas drogas que podem regenerar órgãos afetados, bem como o aprofundamento do conhecimento sobre o cérebro humano.

Enfatizou a necessidade de repensar a educação como fator estratégico para manter a competitividade da economia americana, bem como medida de prevenção à gravidez na adolescência e redução da violência. Muitos analistas consideram o discurso de Obama o mais liberal desde Lyndon Johnson, há 50 anos.

No Brasil, a grande novidade é o lançamento do partido “Rede”, liderado por Marina Silva. Surge em um momento importante da democracia brasileira e preenche um vácuo na realidade partidária do país: um partido comprometido com uma agenda do século XXI, que certamente dará ao eleitorado uma nova opção diante da pobreza que marca a polarização PT e PSDB.

Em que pese a contribuição de ambos nos últimos 30 anos, trazem uma visão de mundo reduzida e ultrapassada incapaz de perceber a necessidade de mudanças estruturais na sociedade brasileira.

A liderança de Marina Silva neste processo é fundamental pelo fato de que o seu potencial eleitoral, além de quantificar essa demanda reprimida na sociedade, tem o poder de atrair toda uma moçada desencantada com a política tradicional.

Assim, não tenho nenhuma dúvida de que irá obter o número de assinaturas necessário para a criação do novo partido, restando como desafio maior traduzir, para o eleitorado em 2014, esta agenda.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 21 de fevereiro de 2013.