O que esperar de 2012?

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- outubro 14, 2013

O ano que está se encerrando foi marcado por grandes transformações a começar pelo vento democrático que derrubou ditaduras na Tunísia, Egito e Líbia, passando pelo Yêmen e Marrocos, sem que se saiba exatamente quais são os rumos que esses países tomarão em termos de implantação de modelos democráticos.

A sensação, para os brasileiros e latino-americanos, é a de que estas sociedades estão vivendo algo que vivenciamos há trinta anos, com a democratização do continente e mesmo do Brasil. Além disso, é incontestável o impacto da crise econômica europeia que colocou em risco a sua moeda, o euro, e o desenho político da União Europeia.

De certo modo, o mundo assiste a necessidade de repactuação de seus pactos políticos, o que é uma discussão difícil e complexa, mas absolutamente necessária na qual a soberania de cada país precisa ter seus limites bem definidos.

Aliás, no mundo globalizado, no qual a autonomia de cada país é confrontada com a interdependência entre todos, cabe repensarmos ideias e conceitos praticados há duzentos anos que não são mais operacionais como foram até aqui.

Certamente, não há tema no qual a interdependência fica mais evidente do que o do clima. Cada vez que se emite carbono no Brasil, a repercussão se dá no planeta como um todo, isto é, a atmosfera não tem fronteira. Do mesmo modo, acontece com a China quando implanta uma nova termoelétrica.

Todos são responsáveis e vítimas simultaneamente, sendo nesse momento impossível determinar claramente “de que lado do balcão estamos”.

Recordo-me de uma viagem pelo Xingu alguns anos atrás em que fomos pegos por uma grande chuva na travessia de um dos rios e o índio responsável assinalava que a mesma estava fora de temporada. Pensei com meus botões que se considerássemos a parcela de responsabilidade dele ou de seu povo em termos de ambição, ela seria incomparavelmente menor que a minha, ainda que os impactos não façam esse tipo de distinção.

Creio que a grande discussão que temos pela frente será a de encontrarmos um novo desenho democrático, no qual direitos e deveres sejam bem colocados e um novo conceito de responsabilidade seja assimilado no pressuposto de uma cidadania planetária.

Países como o Brasil que usufruem de uma democracia consolidada por alguns anos têm pela frente o desafio de promover reformas estruturais com a finalidade de recolocar questões que, no seu processo de redemocratização, foram mal cuidadas: representação política, dimensão metropolitana de suas capitais e competências e responsabilidades de seus entes políticos associadas ao seu financiamento.

Mas muitas dessas questões, guardadas as reservas, deveriam também ser discutidas em países com tradição democrática como os EUA, cujo bipartidarismo exacerbado tem claramente colocado grandes barreiras à capacidade da maior economia do mundo de enfrentar a sua maior crise desde 1929.

Ter clareza desta agenda e capacidade de discuti-la com a sociedade de modo a motivá-la a compreender e formular as respostas talvez seja o grande desafio de 2012. A insatisfação e o desconforto dos recentes movimentos sociais como o “Ocupe Wall Street” talvez possa vir a ser o ponto de partida dessa discussão.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 19 de dezembro de 2011.