Pergunta para o próximo ano

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- setembro 30, 2013

O ano de 2012 praticamente se encerrou. Pelo menos até aqui sobrevivemos às previsões de que o mundo acabaria. Tivemos eleições no Brasil e nos EUA e nada indica que teremos grandes mudanças. 2012 não foi capaz de resolver a crise econômica e deixou muitas questões em aberto.

As perspectivas não apontam razões para otimismo, afetando dramaticamente a população de muitos países europeus e a americana, sendo que é a primeira vez, nas últimas décadas, que estas sociedades enfrentam problemas tão intensos de desemprego e pobreza.

No campo da sustentabilidade o que mais chamou atenção foi o decepcionante resultado da Rio+20, aprofundando as dificuldades do estabelecimento de um pacto global que coloque uma agenda para que todos os países se engajem no enfrentamento da crise ambiental planetária.

Explico: nos últimos anos a comunidade científica tem dado alertas claros sobre os riscos causados pela ação da Humanidade nos processos ecológicos planetários. Se estes não forem adequadamente compreendidos, estaremos caminhando inexoravelmente para um mundo com maiores dificuldades de assegurar a todos os seus habitantes condições dignas de vida.

Comparando o grau de conhecimento e consciência dos dias de hoje sobre tais questões com o de algumas décadas atrás, é incontestável que estamos em um outro patamar. Mas o que chama atenção é que, ainda assim, estamos longe de vislumbrar boas notícias.

Tive a oportunidade de participar da elaboração do Relatório GEO 5 – Global Enviroment Outlook, um diagnóstico do planeta realizado pelas Nações Unidas.

Este confirmou que continuamos agindo perigosamente: os oceanos estão mais ácidos com seus estoques pesqueiros comprometidos; a biodiversidade – base da vida – está com perdas expressivas pela fragmentação dos habitats, aquecimento global e o avanço das chamadas espécies invasoras; e será impossível que o aumento da temperatura média do planeta, até o final do século, seja estabilizado em até 2°C.

Como pessoa engajada nessa problemática há décadas, tenho mais perguntas do que respostas: o que fazer para inverter estas trajetórias aparentemente irreversíveis? Que erros estamos cometendo? As mensagens ambientalistas perderam eficácia? De um lado, sempre imaginamos que o conhecimento científico sério seria um aliado decisivo a influenciar os tomadores de decisão.

No entanto, os alertas da ciência têm sido insuficientes. Também imaginávamos que o aumento da frequência de desastres naturais como o Katrina, as secas no centro-oeste americano e, mais recentemente, o furacão Sandy provocariam grandes debates nos EUA…

Como sensibilizar as pessoas para a gravidade do problema continua sendo a grande questão. Talvez a neurociência nos ajude a compreender como o ser humano se comporta diante de situações como essa. Deixemos para 2013 essa reflexão.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 29 de novembro de 2012.