Pré-Sal: Precisamos discutir

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- agosto 23, 2013

Em minha coluna desta semana, não tenho como deixar de abordar o assunto do pré-sal e o lançamento das novas regras para sua exploração pelo governo brasileiro. Há um ano atrás escrevi neste mesmo espaço sobre este tema e gostaria de resgatar um pouco daquela reflexão.

 

Mais uma vez, presenciamos nos discursos de nossas autoridades uma euforia ufanista em relação ao petróleo, encontrado nas profundezas de nossa costa, enfatizando como todos os problemas do país poderiam ser resolvidos com sua exploração e com os royalties gerados por seu usufruto, sendo estes objeto de grande disputa entre os governadores e políticos.

 

No entanto, o que se esquece com esse discurso é que o Brasil, se agir dessa maneira, corre o risco de caminhar na contramão da História. Explico: do ponto de vista interno, a produção do pré-sal tende a sujar a matriz energética brasileira, caracterizada pela grande presença de fontes renováveis. Do ponto de vista externo, existe uma forte tendência de restrição ao uso de combustíveis fósseis, uma vez que as negociações internacionais sobre clima, caminham para um novo acordo climático, mais audacioso que o Protocolo de Kyoto. Já estão em discussão metas de redução para 2050 de 50% a 80% das emissões referentes a 1990.

 

Ainda não há consenso se os países em desenvolvimento terão metas de redução. No entanto, os países desenvolvidos, grandes consumidores de petróleo, seriam obrigados a substituir seu consumo e repensar suas economias rumo à baixa emissão de carbono.

 

O que temos então é uma questão de mercado, ou seja, qual seria a participação do petróleo no cenário mundial em 20 ou 30 anos?

 

No momento em que as maiores economias mundiais buscam fontes alternativas de energia, o Brasil parece seguir na contramão.

 

Certamente esta é uma questão complicada e polêmica uma vez que essas reservas de petróleo podem significar o suprimento da demanda brasileira por energia. No entanto, se estamos exigindo da China e Índia que mudem suas matrizes energéticas e assumam metas de redução de emissão de gases efeito estufa, não podemos caminhar na direção oposta, comprometendo o esforço mundial pelo clima.

 

Outro risco que o país não pode correr é o de desviar recursos de outras soluções energéticas para o pré-sal. O Brasil tem um enorme potencial ainda a ser explorado e desenvolvido no campo das fontes renováveis de energia, o que certamente o coloca numa posição de liderança que deveria ser plenamente exercida, principalmente às vésperas da próxima reunião da ONU sobre Mudanças Climáticas que será realizada em dezembro deste ano em Copenhague, Dinamarca.

 

Temos que trazer para a sociedade brasileira essa discussão. Esse é um debate que requer bom senso e no momento atual da política brasileira assumir riscos perante essa euforia parece algo quase que impossível.

 

No entanto, não podemos nos esquecer que o ajuste de contas se dará inevitavelmente com as futuras gerações…