Produtos sustentáveis pra valer

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- outubro 10, 2013

Na semana passada, participei do 7° Cement Sustainability Initiative (CSI) Forum, em Vancouver, Canadá. O evento teve como tema “Sustainable Construction: Building tomorrow’s world” e foi promovido pelo CSI – World Business Council for Sustainable Development (WBCSD).

Como é sabido, a indústria do cimento é responsável por 5% das emissões globais de gases efeito estufa (GEE), o que significa que ela está entre os grandes emissores, superando vários países, entre eles o Brasil. Desse modo, todo o esforço de reduzir suas emissões merece apoio, valendo lembrar que há uma tendência praticamente irreversível de aumentar o uso de cimento e concreto nos países emergentes, uma vez que existe uma demanda por aumento da infraestrutura e por programas habitacionais, a exemplo do que ocorre Brasil.

O interessante do evento foi perceber que hoje existe a compreensão de que há necessidade de se tratar o tema em vários níveis, como por exemplo em inovações tecnológicas na fabricação do produto, a partir de exigências por parte dos governos locais, quer em suas compras (licitação sustentável), quer na edição códigos. Além do estabelecimento de metas setoriais na esfera das negociações internacionais em curso.

Torna-se importante assinalar que dentre as iniciativas importantes uma delas ganha destaque: EPD – Environmental Product Declaration. Trata-se de uma declaração voluntária dos impactos ambientais associados à fabricação de um produto ou sistema. Traduzindo em miúdos, é o esforço de se visualizar os impactos ambientais gerados desde a extração de matéria prima, passando pelo processo de fabricação até a disposição final de determinado produto, de acordo com o estabelecido na ISO 14.025 de 2006, exigindo, portanto, a elaboração de uma análise de ciclo de vida do produto.

Para muitos leitores, trata-se de uma questão meramente técnica, mas esse esforço pode se tornar um instrumento primordial na melhoria do desempenho da economia em termos de identificação de uso dos recursos naturais e geração de poluição. Com isso, o consumidor e o poder público poderão tomar decisões que estimulem bens e serviços sustentáveis, mediante políticas de compra e fixação de taxação.

No caso dos governos, estes poderão, em suas licitações, exigir atendimento de certos critérios, como por exemplo, na origem da areia utilizada na construção civil. Hoje, em São Paulo, esta matéria prima é na sua maioria extraída ilegalmente com grandes danos ambientais causados pelas cavas, sendo praticamente impossível se coibir, com efetividade, esta atividade. Supondo que os grandes consumidores deste insumo sejam estimulados a consumir um produto de extração legal, teríamos a possibilidade de trazer para a formalidade uma atividade econômica com enormes benefícios econômicos, tributários e ambientais.

No evento foi apresentada uma solução tecnológica de um produto cuja utilização pode diminuir a poluição em função de suas “qualidades químicas”. O resultado dessa utilização pode ser muito importante em cidades ou centros intensamente poluídos.

Muitas outras iniciativas estão em curso e o seu conjunto pode ser crucial no esforço de se enfrentar os grandes desafios planetários como o aquecimento global, perda da biodiversidade, acidificação dos oceanos, dentre muitos. Como ressaltou Edvaldo Rabelo da Votorantim Cimentos, “esta aliança estratégica entre setor empresarial, comunidade científica, sociedade civil e governos pode ser o elemento estratégico para acabar com o greenwashing (maquiagem verde)”.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 10 de outubro de 2013.