Sinais de uma sociedade doente

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- outubro 10, 2013

Três jovens foram encontrados mortos na cidade do Rio de Janeiro no último final de semana: a notícia não seria tão surpreendente não fosse a maneira com que esses jovens foram entregues à morte. A violência urbana no Rio de Janeiro, bem como em tantas outras capitais brasileiras, já não choca mais a população e figura no cotidiano dos noticiários, como se vivêssemos realmente em tempos de guerra civil aberta e conhecida.

O fato é que dessa vez militares estiveram intrinsecamente envolvidos com a morte desses jovens, de 24, 18 e 17 anos. Os jovens foram presos no início da noite de sábado por desacato à autoridade e levados ao Quartel do Exército do Morro da Providência, onde viviam, mas logo em seguida foram liberados. Ao invés de voltarem para suas casas, esses jovens foram entregues pelo tenente envolvido aos traficantes do Morro da Mineira, rivais daqueles estabelecidos no Morro da Providência. Depois de terem sido entregues não é difícil imaginar o que aconteceu com estes jovens, que foram torturados, assassinados e “desovados” no lixão de Gramacho, em Duque de Caxias. Seus corpos foram encontrados no domingo.

Sempre buscamos identificar os dois lados das questões: o bem e o mal, o certo e o errado, o bandido e a vítima. Nesse caso porém os papéis de misturam, se entrelaçam e a distinção do certo e errado, do bandido e do mocinho se torna praticamente impossível. Os profissionais preparados e pagos pela sociedade para garantir sua proteção se tornam grandes carrascos da mesma e entram no jogo praticado pelos traficantes da maneira mais baixa: se igualando a eles. Ainda vivemos a ilusão de que policiais e militares agirão de forma responsável, zelando sempre pela salvaguarda e bem estar da população, mas o fato é que quando expostos às práticas e métodos do tráfico, tendem a incorporá-los.

Sempre me lembro de que quando fui deputado, os militares falavam abertamente sobre esse assunto e diziam que não entravam na luta contra o tráfico, pois certamente se renderiam às práticas e métodos usados pelo crime organizado. Isso sempre me deixou muito apreensivo e preocupado, já que mostrava que nossos militares não têm estrutura emocional e corporativa para suportar a pressão que a luta contra o tráfico exigiria. O fato ocorrido no final de semana só faz confirmar a afirmação de anos atrás. Mais além, podemos suspeitar que ações como esta não sejam isoladas e que aconteçam com mais freqüência do que gostaríamos de imaginar.

É necessário neste momento que todos os militares envolvidos com o crime sejam severamente punidos, para que além da perplexidade com a brutalidade dos fatos, não nos reste a impunidade e a certeza de que casos como este possam vir a se repetir indiscriminadamente. É tempo das autoridades cariocas e nacionais se posicionarem de forma firme e garantirem à população o mínimo de respeito e dignidade que merece. Ficamos aguardando.