Soluções criativas para 2012

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- outubro 14, 2013

Muitas pessoas dizem que um dos problemas do ambientalismo é o tom apocalíptico de suas manifestações: aquecimento global, perda da biodiversidade, poluição e contaminação dos rios e oceanos, enfim, afirmam que o tom profético afasta as pessoas do engajamento e das soluções.

Creio que é impossível fugir de constatações sobre a gravidade do problema, uma vez que a ciência demonstra os impactos provocados pela Humanidade no planeta.

Como já escrevi nesta coluna, alguns cientistas já falam do Antropoceno – quando a Humanidade adquire uma força geológica capaz de provocar grandes alterações que vão da composição química da atmosfera, passando pela destruição dos oceanos e a contaminação perigosa dos ambientes. Não há como deixar de registrar esta realidade trágica e de caráter irreversível em alguns casos.

Por outro lado, há grandes razões para otimismo e esperança. Expressões como “biodiversidade” têm pouco mais de vinte anos e são de uso comum da Humanidade. Os conceitos de biosfera e de ecossistema também são novos, têm menos de cem anos de criação.

Quando foi dado o grande alerta por Rachel Carson sobre a contaminação dos pesticidas, esta grande bióloga foi extremamente contestada pela indústria e hoje há plena consciência da necessidade de tecnologias menos contaminantes e impactantes.

A primeira grande Conferência das Nações Unidas se realizou em Estocolmo em 1972 e nela só participou um chefe de Estado, a ex-primeira ministra Indira Gandhi, da Índia, que lá manifestou sua desconfiança sobre as reais intenções dos países ricos ao levantarem a bandeira do ambientalismo planetário.

Naquela década, praticamente inexistia o conceito de ONGs, sendo importante ressaltar que uma das mais carismáticas entidades, o Greenpeace, foi criada em 1971.

No campo dos Direitos Humanos, o surgimento da Anistia Internacional se deu no mesmo período, sendo importante registrar a influência que tais entidades possuem no mundo contemporâneo.

Com isso, quero assinalar que o patamar de consciência existente hoje é incontestável. A sustentabilidade, ainda que imprecisa enquanto conceito, hoje permeia praticamente todas as atividades da Humanidade, sendo inimaginável que uma empresa deixe de considerá-la nas suas estratégias de médio e longo prazo, sob pena de sobrevivência.

O conflito se dá entre a urgência dos problemas e a lentidão das soluções, sendo impossível prever se a Humanidade será capaz de promover as mudanças no tempo requerido, especialmente levando-se em conta que são soluções que envolvem muitos atores e demandam criatividade nos arranjos políticos e institucionais.

Lembro de uma discussão durante a negociação do Protocolo de Kyoto sobre as punições aos países que deixassem de cumprir as suas metas. Imagine o leitor, quando os EUA ainda faziam parte do Protocolo, que tipos de penalidade poderiam ser impostas à maior economia e potência militar do planeta?

Creio que soluções criativas surgirão se formos capazes de pensar em novos arranjos institucionais nos quais se pensem em alianças estratégicas entre sociedade civil e setores empresariais comprometidos, amparados por legislação e governos com visão do século XXI. Sei que não é fácil, mas creio que é possível criar respostas criativas para problemas de magnitude não enfrentados pela Humanidade até hoje.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 2 de janeiro de 2012.