Sonhos para 2012

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- outubro 14, 2013

O que seria um grande 2012 é o que ficamos pensando. A primeira grande resposta entre amigos foi a de encontrar soluções que permitissem o enfrentamento da crise planetária e da crise econômica no mundo.

O ano de 2011 confirmou através de documentos científicos que o aquecimento global está aí e seus impactos são mais dramáticos do que se imaginava: muitos não acreditam que seremos capazes de garantir o aumento da temperatura média em 2ºC até o fim do século, dadas as dificuldades nas medidas necessárias de mitigação – redução de emissões. Muitos, inclusive, acreditam que o que a humanidade emitiu nos últimos anos já provocou danos irreversíveis, de modo que pouco restaria ser feito.

Não há como não reconhecer a urgência do problema e a dificuldade de convencimento da sociedade. Mas, por outro lado, há razão para esperança. Na África do Sul, em Durban, nos dias em que lá estive durante a COP17 da ONU, fiquei imaginando que até 1990 o país vivia o regime do Apartheid: negros – a maioria da população – eram legalmente proibidos de frequentar determinados locais públicos e a legislação punia com severidade a convivência com brancos.

Quem diria que Nelson Mandela se transformaria no grande ícone do século XX, tendo se tornado presidente do país e referência universal de conciliação? A crise econômica mundial evidenciou a fragilidade das economias de países até poucos anos atrás considerados estáveis, sendo que o mito de que os mesmos se ancoravam em pilares inabaláveis mostrou toda a sua fragilidade nos últimos meses.

Quem imaginaria, na década de 80, que países europeus como a Itália ou França teriam problemas tão sérios relativos a gigantescos déficits públicos, em grande parte devido à irresponsabilidade de seus governantes? E que países como o Brasil seriam considerados “bons modelos” de gestão de combate à crise?

Quando imagino ser possível pensar nas duas crises em conjunto, penso que investimentos públicos poderiam ser alocados para geração de novas tecnologias que permitissem maior eficiência no uso de energia visto que parte expressiva do problema do aquecimento global resulta do desperdício e uso de combustíveis fósseis.

No setor de transportes, um dos mais complexos, imagino que muitos recursos poderão ser investidos em alternativas de transporte público sustentável nos grandes centros urbanos, levando em consideração a urbanização acelerada do planeta. Ao invés de se pensar em soluções individuais como automóveis, por que não se criar alternativas efetivas?

No campo da alimentação, quem imaginaria que o número de mortes causadas pela fome se aproxima ao número de mortes causadas pela obesidade e doenças afins? Teremos que enfrentar mudanças culturais em várias esferas do nosso cotidiano e encontrar boas alternativas de políticas públicas.

O poder público tem a responsabilidade de utilizar instrumentos regulatórios e fiscais para promover a mudança de comportamento: oferecer transporte público eficiente, barato e não poluidor nas cidades, alimentos que façam parte de uma dieta saudável e acessíveis a toda população, moradias sustentáveis que permitam qualidade de vida aos seus usuários.

E, mais do que tudo, a integração dessas políticas que revelem uma abordagem holística e uma preocupação ética com as futuras gerações.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 26 de dezembro de 2011.