Zé Pedro: um grande herói da conservação

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- setembro 30, 2013

Vivemos em um mundo que apresenta uma falta de exemplos de pessoas que possuem uma trajetória de vida coerente e com contribuições tangíveis.

Infelizmente, nem sempre estes exemplos são devidamente conhecidos, o que nos priva de inspiração.

O mais importante é que essas pessoas tenham um reconhecimento em vida. No meu livro “Sustentabilidade planetária, onde eu entro nisso?”, procurei dar a algumas dessas pessoas o crédito merecido, mas usei o critério de idade para selecionar os homenageados.

Mas, nesta coluna semanal, irei destacar, de quando em quando, algumas “personalidades”, cujo exemplo merece registro.

Começo com o arquiteto José Pedro de Oliveira Costa. “Zé Pedro”, para aqueles que conhecem o seu trabalho, deixou uma marca importante nas grandes iniciativas nacionais e internacionais em favor da biodiversidade, na época em que este termo nem existia.

Foi iniciativa sua, na década de 80, o tombamento da Serra do Mar, que começou em São Paulo e se estendeu por todos os estados onde ela existe.

O importante é que foi Zé Pedro quem vislumbrou que o tombamento poderia ser um instrumento importante e eficaz na conservação de espaços ecológicos e territoriais expressivos.

Até então, o tombamento era vinculado, essencialmente, à proteção de patrimônio arquitetônico, histórico e arqueológico, uma vez que inexistia a aceitação, hoje universal, de patrimônio ecológico ou patrimônio natural.

Zé Pedro também foi o responsável pela criação do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), no início do governo Montoro, tornando-se corriqueira a ideia de participação da sociedade civil, academia e setor empresarial em instâncias públicas colegiadas.

A criação da Fundação SOS Mata Atlântica é uma de suas grandes contribuições na esfera da sociedade civil. E poucos sabem que ele é um artista plástico de grande talento.

Veio a se tornar em 1986 o primeiro secretário da então recém-criada Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo, inovação institucional muito relevante para a implantação das políticas públicas ambientais.

Desde então, não há iniciativa importante no Brasil, cuja impressão digital de Zé Pedro não esteja presente.

É difícil dizer qual delas é a mais relevante, mas arrisco que foi a criação do Parque Nacional Montanhas de Tumucumaque: uma área de 38,4 mil km², localizada no Amapá e Pará, hoje o maior parque tropical do planeta.

Muitas dificuldades foram enfrentadas na criação de Tumucumaque, desde argumentos que invocavam a defesa das fronteiras e a soberania nacional, até a difícil “corrida de obstáculos” imposta pela burocracia estatal brasileira.

Mas se existe uma qualidade em Zé Pedro é a dignidade de sua determinação: ainda que submetido a todas essas mazelas, não se deixa contaminar pelo desânimo. Mais recentemente, esteve engajado no tombamento da Mantiqueira.

A exemplo do que já fez em favor da Mata Atlântica, é certo que irá conseguir deixar para as futuras gerações mais esta contribuição. Mais do que tudo, a trajetória de Zé Pedro é o seu grande legado.

Artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 7 de fevereiro de 2013